quarta-feira, 20 de junho de 2012

A lenda do intuitivo genial foi enterrado em cova rasa no jardim da mansão de Maluf


20/06/2012
 às 18:30 
Augusto Nunes


O intuitivo genial, reverenciado pela seita lulopetista desde a vitória na eleição de 2002, jaz desde segunda-feira numa cova rasa no jardim  da mansão de Paulo Maluf. Ansioso por garantir o apoio do dono do PP à candidatura de Fernando Haddad, como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, Lula caiu na armadilha montada pelo parceiro mais esperto por ter esquecido duas velhas lições. A primeira ensina que, quando dois políticos se encontram na casa de um deles, o anfitrião está sempre em vantagem: é o visitante quem vai pedir-lhe alguma coisa. A segunda lição, antiga como a fotografia, avisa que certas imagens valem mais que mil palavras.
Se a aliança repulsiva fosse consumada no Palácio do Planalto, numa audiência concedida pelo presidente Lula ao deputado federal Paulo Maluf (e sem jornalistas por perto), Haddad não estaria hoje caçando algum substituto para Luiza Erundina. Se a reunião tivesse ocorrido no apartamento do ex-presidente em São Bernardo (longe da imprensa), os danos seria menores. Os estragos começaram a adquirir dimensões formidáveis quando Maluf exigiu que o casamento fosse celebrado em sua casa, avisou que só diria sim se Lula estivesse presente e decidiu convidar a imprensa para testemunhar a cerimônia. Deu no que deu.
As imagens da turma no jardim documentam a rendição do chefão do PT ao homem que passou a vida chamando de “ladrão” ─ e que o acusou mais de uma vez de agir como ave de rapina. Aos olhos da multidão, Lula foi lá para pedir desculpas e pedir 1min35 no horário eleitoral gratuito. Foi perdoado e atendido. Um se humilhou. Outro foi publicamente absolvido de todos os pecados passados, presentes e futuros. O resto é conversa fiada.
Portadores da Síndrome de Deus jamais admitem que erraram. Neste momento, rodeado de devotos genuflexos, Lula deve estar recitando que fez tudo certo, que quem errou foi Erundina, que a imprensa superestima o episódio para prejudicar o PT, que tudo será esquecido e que vai eleger Haddad. Nenhum dos áulicos em torno ousará contar-lhe que, por ter dado um passo maior que a perna, deu outro tiro no pé.
Uma coisa é a aliança no plano federal com um partido que muda de rosto conforme a região. Em Santa Catarina, por exemplo, o PP tem a cara de Esperidião Amin. No Rio, é parecido com Francisco Dornelles. Em São Paulo, a sigla é mais um codinome de um político promovido a símbolo da corrupção impune, do primitivismo eleitoreiro, do vale-tudo indecoroso, do “rouba mas faz”. Desta vez, Lula não pode balbuciar que ninguém é culpado antes de ser condenado. Se insistir no mantra, será convidado a visitar o site da Interpol. Há dez dias, o post que enumerou os recentes tiros no pé desferidos pelo ex-presidente lembrou que o SuperMacunaíma que engana todo mundo foi enganado por Gilberto Kassab. Acaba de ser tapeado por Paulo Maluf.
Sorte de José Serra, convém registrar. O candidato do PSDB, que sempre foi o maior adversário dele próprio, estava pronto para consumar um acordo com Paulo Maluf quando o proprietário dos cobiçadíssimos 95 segundos na TV resolveu trocá-los por um cofre no Ministério das Cidades e pelas fotos no jardim. Conjugadas, a ganância de Maluf e a soberba de Lula livraram Serra de mais um naufrágio prematuro. Tomara que consiga entender do que escapou.
A reação dos brasileiros que pensam e prestam foi um claro recado aos políticos convencidos de que todos os eleitores ignoram a diferença que separa um acordo partidário de uma fusão de quadrilhas. Há limites para tudo e para todos. Até para Lula ─ e para o rebanho que acompanha com balidos reverentes a marcha da desfaçatez.

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