Posted: 13 Jun 2015 03:22 PM PDT
Carolina Brígido - O Globo
Para ele, episódio foi um “passo mal dado” e demonstra a partidarização do órgão
O ex-embaixador do Brasil na Argentina José Botafogo Gonçalves criticou a tentativa do Itamaraty de barrar a divulgação de documentos revelando eventuais relações entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a Odebrecht, empreiteira investigada na Operação Lava-Jato. Para o diplomata, o episódio foi um “passo mal dado” e demonstra a partidarização do Itamaraty – um processo que, segundo ele, começou a partir do primeiro governo Lula, em 2003.
— Eu acho que foi um passo mal dado, não há duvida. Ainda bem que o Itamaraty voltou atrás. Não vejo nenhuma justificativa para reclassificar documentos relativos ao ex-presidente Lula. Desde que ele assumiu o poder, o Itamaraty ficou com a política externa muito condicionada ao governo e ao partido de Lula. Lamentavelmente, o Itamaraty, nos últimos anos, deixou de lado o papel de servidor do Estado e passou a servir o governo. Esse episódio foi reflexo dessa característica, inaugurada por Celso Amorim — declarou, lembrando o ex-ministro das Relações Exteriores.
Botafogo Gonçalves explicou que o Itamaraty tem preocupação em divulgar documentos que possam prejudicar as relações do Brasil com outros países. Mas, para ele, o caso Lula não se enquadra nessa categoria.
— Há muito tempo existe uma preocupação dentro do Itamaraty de não divulgar documentos que possam comprometer aspectos das negociações do Brasil com países estrangeiros. É natural que o Itamaraty seja cauteloso na divulgação de documentos que possam provocar desconforto com países estrangeiros. Não é o caso. Como o presidente Lula viaja com estrutura do governo para dar palestras no exterior, deve ter havido excesso de cautela — avaliou.
Na última sexta-feira, reportagem do GLOBO informou que o Ministério das Relações Exteriores deflagrou ação para evitar a divulgação de documentos mostrando ligação de Lula com a Odebrecht. O diretor do Departamento de Comunicação e Documentação, ministro João Pedro Corrêa Costa, chegou a distribuir um memorando determinando que os papéis sobre o assunto fossem reavaliados e pudessem ser considerados secretos, de acordo com o conteúdo de cada documento.
Documentos públicos classificados como “reservados”, por lei, podem ser divulgados depois de cinco anos. O memorando sugeria a reclassificação dos papéis, que seriam viriam a público em apenas em 15 anos. Depois de publicada a reportagem, o Itamaraty voltou atrás e informou que liberaria os documentos. “O Ministério das Relações Exteriores reitera o seu comprometimento inequívoco com o respeito e a observância do princípio democrático da transparência de que se imbui a Lei de Acesso à Informação”, diz nota do ministério divulgada ontem.
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