O Estado de S.Paulo - 05/01
Nos últimos três anos, o governo Dilma acreditou em que estivesse adotando as melhores políticas de incentivo à indústria. Os resultados foram medíocres. Em 2011, a indústria cresceu apenas 0,3%, seguido de desempenhos também ruins em 2012 (-2,7%) e 2013 (+1,6%).
O diagnóstico geral esteve reconhecidamente equivocado. Não foi por falta de consumo interno que a indústria se ressentiu e segue se ressentindo. A indústria enfrenta dois problemas graves conjugados: falta de competitividade e incapacidade de inserção na rede global de suprimentos.
Quase sempre que são chamadas a opinar, um bom número das cabeças preocupadas com o futuro da indústria avisa que, com esse câmbio, com o real valorizado perante o dólar, não há setor produtivo que consiga prosperar. É uma meia-verdade. O buraco fica ainda mais embaixo.
A indústria brasileira não tem competitividade por duas principais razões: primeira, porque enfrenta um custo Brasil insuportável, na medida em que quase tudo é mais caro por aqui. Até há alguns anos, o governo tratava de compensar com mais câmbio - mais desvalorização do real - esse baixo poder de fogo, mas esse é um recurso limitado porque importações de máquinas, de matérias-primas e de peças mais caras em reais também asfixiam uma indústria que precisa inserir-se mais profundamente nos mercados. Em segundo lugar, porque tanto o governo Lula quanto o governo Dilma não deram importância à abertura de mercados para a indústria, uma vez que descuidaram da negociação de acordos comerciais. Hoje, a maioria dos concorrentes do Brasil está amarrada a acordos de comércio e, por eles, as prioridades vão para indústrias de outros países.
Não foi apenas com mais câmbio que o governo tentou dar mais força para a indústria. Desonerou as folhas de pagamentos, providência que deve ter beneficiado o setor em cerca de R$ 40 bilhões; reduziu impostos para a indústria de veículos, de materiais de construção, de aparelhos domésticos e de mobiliário; derrubou os juros básicos, a fim de azeitar o crédito; criou reservas de mercado por meio da extensão do estatuto do conteúdo local para um grande número de setores, especialmente o dos fornecedores de equipamentos de petróleo; e impeliu o BNDES para empurrar com créditos subsidiados os campeões do futuro.
Assim, o resultado decepcionou porque uma política industrial só funciona quando há confiança e os fundamentos da economia estão equilibrados.
Os próximos anos serão atrozes para a indústria. Apenas o setor de veículos enfrentará em 2015 uma capacidade ociosa de cerca de 1,5 milhão de unidades. Ao longo deste ano toda a indústria deverá enfrentar o aumento da competição da indústria americana (e de outros países) que será fortemente beneficiada com uma redução substancial dos custos da energia, graças à revolução do xisto.
Há sinais de que os dirigentes, afinal, parecem ter acordado para a necessidade de um choque capitalista que recoloque a indústria nos grandes negócios globais. O problema é saber se haverá disposição para fazer o que tem de ser feito, sobretudo em 2014, ano eleitoral.
Nos últimos três anos, o governo Dilma acreditou em que estivesse adotando as melhores políticas de incentivo à indústria. Os resultados foram medíocres. Em 2011, a indústria cresceu apenas 0,3%, seguido de desempenhos também ruins em 2012 (-2,7%) e 2013 (+1,6%).
O diagnóstico geral esteve reconhecidamente equivocado. Não foi por falta de consumo interno que a indústria se ressentiu e segue se ressentindo. A indústria enfrenta dois problemas graves conjugados: falta de competitividade e incapacidade de inserção na rede global de suprimentos.
Quase sempre que são chamadas a opinar, um bom número das cabeças preocupadas com o futuro da indústria avisa que, com esse câmbio, com o real valorizado perante o dólar, não há setor produtivo que consiga prosperar. É uma meia-verdade. O buraco fica ainda mais embaixo.
A indústria brasileira não tem competitividade por duas principais razões: primeira, porque enfrenta um custo Brasil insuportável, na medida em que quase tudo é mais caro por aqui. Até há alguns anos, o governo tratava de compensar com mais câmbio - mais desvalorização do real - esse baixo poder de fogo, mas esse é um recurso limitado porque importações de máquinas, de matérias-primas e de peças mais caras em reais também asfixiam uma indústria que precisa inserir-se mais profundamente nos mercados. Em segundo lugar, porque tanto o governo Lula quanto o governo Dilma não deram importância à abertura de mercados para a indústria, uma vez que descuidaram da negociação de acordos comerciais. Hoje, a maioria dos concorrentes do Brasil está amarrada a acordos de comércio e, por eles, as prioridades vão para indústrias de outros países.
Não foi apenas com mais câmbio que o governo tentou dar mais força para a indústria. Desonerou as folhas de pagamentos, providência que deve ter beneficiado o setor em cerca de R$ 40 bilhões; reduziu impostos para a indústria de veículos, de materiais de construção, de aparelhos domésticos e de mobiliário; derrubou os juros básicos, a fim de azeitar o crédito; criou reservas de mercado por meio da extensão do estatuto do conteúdo local para um grande número de setores, especialmente o dos fornecedores de equipamentos de petróleo; e impeliu o BNDES para empurrar com créditos subsidiados os campeões do futuro.
Assim, o resultado decepcionou porque uma política industrial só funciona quando há confiança e os fundamentos da economia estão equilibrados.
Os próximos anos serão atrozes para a indústria. Apenas o setor de veículos enfrentará em 2015 uma capacidade ociosa de cerca de 1,5 milhão de unidades. Ao longo deste ano toda a indústria deverá enfrentar o aumento da competição da indústria americana (e de outros países) que será fortemente beneficiada com uma redução substancial dos custos da energia, graças à revolução do xisto.
Há sinais de que os dirigentes, afinal, parecem ter acordado para a necessidade de um choque capitalista que recoloque a indústria nos grandes negócios globais. O problema é saber se haverá disposição para fazer o que tem de ser feito, sobretudo em 2014, ano eleitoral.
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