Maria Helena RR de Sousa -
6.6.2014
| 16h16m
GERAL
A II Guerra Mundial foi tão hedionda que pouco se fala da tenebrosa guerra fratricida que dizimou a Espanha de 1936 a 1939.
Conheci a Espanha em 1960. País lindo, cidades medievais deslumbrantes, regiões com nomes mágicos: Granada, Andaluzia, La Mancha, Catalunha... Era Setembro e foi quando completei 23 anos. Na Espanha de Dom Quixote e Sancho Pança, da Habanera, dos mouros e seus palácios magníficos, era para ser uma festa e tanto!
Minha lembrança é a de um país triste, como se o sol estivesse em eterno eclipse, talvez por ver tantos guardias civiles nas ruas, o que recordava a morte bárbara de Garcia Lorca, cujo aniversário foi comemorado ontem, 5 de junho.
Franco foi um ditador execrável do final da Guerra Civil até quase morrer. Poucos monarcas absolutistas tiveram o poder absoluto sobre as vidas e as cidades espanholas, como esse militar. Era difícil imaginar como a Espanha sairia desse passado para uma democracia no último quartel do século XX.
Mas Franco e o pai de Juan Carlos, o Conde de Barcelona, filho do rei deposto em 1931, acordam que o menino seria educado para ser rei: cursos universitários, militares, estágios nas principais instituições espanholas, viagens pelo país e exterior. O que foi feito. E em 1970, Franco sacramenta o jovem como sucessor.
Nos últimos anos do regime franquista ninguém sabia bem o que esperar do futuro monarca. Uns o tinham como continuador de Franco, inclusive o ditador, e outros como esperança de mudanças em direção à democracia. Pois é...
Quando, em 1975, Franco morre, o jovem monarca, auxiliado por forças políticas modernas e pela sociedade espanhola que o apoia, consegue aprovar a Constituição Espanhola de 1978 que estabelece uma monarquia parlamentar e democrática, o rei como Chefe de Estado, com prerrogativas protocolares, representativas e apolíticas, árbitro e moderador das instituições e chefe supremo das Forças Armadas.
O sol voltou a brilhar na Espanha.
Agora, 40 anos depois, a Europa em crise, um genro sendo processado por fraude e corrupção, Juan Carlos ainda por cima fez o que muitos homens fazem: traiu a mulher. Mas, sendo rei, não foi num motel, foi numa caçada em África! Foi o que bastou para a Espanha perder a memória!
Pois venho lhes dizer: eu preferia mil vezes que o Brasil fosse uma monarquia republicana como a espanhola do que esta república absolutista onde o poder central pinta e borda, descuidado do país.
Porto para Cuba, negócios e acordos que nos prejudicam, amantes que duram mais que uma caçada, corrupção grassando, conselhos assustadores em gestação, estádios inúteis e inacabados para uma Copa que serve mais à FIFA que ao Brasil, campanhas políticas que duram quase o tempo dos governos, infraestrutura capenga que nos desmerece.
E ainda pensam em calar nossa Imprensa!
desenho de Laura Casas Valle
Reze por nós, poeta.
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005.
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