Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -
19.3.2014
| 12h00m
Chagall viveu a Era de Ouro do modernismo, convivendo com os expoentes do Cubismo, do Simbolismo e do Fovismo; participou também do surgimento do Surrealismo. Seus contemporâneos, entretanto, raramente deixaram de expressar a intensa admiração que sentiam por sua obra. “Quando Matisse morrer”, disse um dia Picasso, “Chagall será o único pintor vivo que compreende o que a cor verdadeiramente representa”.
Foi durante esse período que o artista firmou seu próprio estilo, baseado em tudo que testemunhara em Paris, no nascimento da arte moderna, na troca de ideias entre seus pares, mas também profundamente impregnado pela bagagem emocional que trazia de casa, de europeu oriental, e por sua visão da cultura popular judaica.
Passou os anos da I Guerra Mundial na Rússia, casou-se, e após a Revolução de 17 as portas da oportunidade se abriram, para se fechar logo em seguida. Chagall foi convidado para ser o Comissário para as Artes, criou o Colégio de Artes de Vitebsk e era considerado o mais destacado membro da vanguarda modernista em seu país.
No entanto, logo entrou em choque com o poderoso Kasemir Malevitch, que se aproveitou do anti-semitismo latente na Rússia e criticou abertamente Chagall por este se recusar a pintar a celebração do heroísmo do povo soviético.
Resultado, Chagall volta para a França levando sua mulher, para nunca mais voltar à Rússia. Sem jamais “abandonar” Vitebsk.
Hoje, aqui está a “Praça do Mercado, Vitebsk”, onde ele, com certeza, passou centenas de vezes. Não sei se vocês concordam ou se o lirismo de Chagall me contagiou: mas creio que não é difícil imaginar porque Vitebsk nunca o abandonou.
Chagall contrasta a grandeza da catedral barroca com a arquitetura modesta das lojas e quiosques. A perspectiva dramática e os ângulos e planos que se cruzam são usados de modo a fazer com que o olhar do espectador passeie por toda a cena. Eu, pessoalmente, gosto de descobrir as pessoas que estão fazendo compras ou vendendo no mercado... e tem um menino meio escondido que devia ser o "capetinha" do lugar...
Nascido na Bielorússia e falecido em Saint-Paul de Vence, sul da França (1887-1985), Marc Chagall foi um dos artistas mais queridos e compreendidos de seu tempo. Dou ênfase ao 'compreendido', pois em seu livro autobiográfico, "Ma vie", percebemos que a arte, para ele, era para ser de todos e não de uns poucos felizardos...
Praça do Mercado, Vitebsk, óleo sobre tela, 66,4 x 97,2 cm
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