Transcrito do Blog Toma-mais-uma.blogspot.com
Alguns dos que me leem sabem que meu pai morreu com um tiro no pescoço ao reagir a um assalto quando regressávamos à nossa fábrica após o almoço. Isso foi em 1977.
Depois disso, minha esposa e eu fomos assaltados três vezes cada, sendo que em uma delas estávamos juntos. Foi quando levaram nosso carro. Dentro do carro, com um tresoitão na cabeça - era a segunda vez que eu vivia essa sensação desagradável - e um outro ameaçando minha mulher e minha cunhada do lado de fora, mandava o bom senso que eu não reagisse. Não reagi e lá se foi nosso Voyage novinho.
Por estranho que possa parecer, nas duas vezes que cada um de nós foi assaltado individualmente, ambos - ela, que é a calma personificada, e eu , o oposto - reagimos e os assaltos não foram consumados. Reagimos talvez por não estarmos sob ameaça de armas de fogo, talvez por imprudência ou talvez, e muito provavelmente, pelo estresse causado pela raiva contra a impotência do cidadão aqui no Rio, sei lá. O fato é que eu me atraquei com bandidos duas vezes e ela uma - a outra foi na base do berro.
Demos sorte, por certo, mas será que agimos errado? Uma cidade que em vez da polícia policiar, dá conselhos aos cidadãos para que, em situações desse tipo, não esbocem uma reação, não movam um músculo, não falem, olhem para baixo e entreguem tudo para os bandidos, não pode ser chamada de lugar civilizado. Não faz o menor sentido você trabalhar para poder se proporcionar um pouco de conforto - um carro, um relógio, um celular ou mesmo um tênis - e não poder usufruir, pela obrigação de entregar seus bens ao primeiro “coletor de impostos informalmente compulsórios” que lhe abordar, a mando da própria polícia. Já não bastam os impostos formais, que dão e sobram para se ter uma segurança pública decente?
Será que alguém tem dúvidas que os recentes arrastões nas praias são culpa exclusiva dessas atitudes covardes e omissas da polícia? Será que não ficou claro que nos episódios como os de ontem e os de domingo as quadrilhas agiram muito mais agressivamente com a própria polícia do que nos arrastões de um ano atrás? As manifestações políticas de junho e julho ainda estão bem claras na memória de todos, quando a polícia aqui do Rio se limitou a ficar olhando enquanto os black blocs e companhia destruíam tudo pela frente. Isso quando não era desafiada e atacada, casos em que mais apanharam do que bateram. É lógico que nas batalhas de ontem na praia a pivetada trazia na memória essa recente demonstração inequívoca da passividade da polícia e partiu para o confronto, sem medo de serem felizes.
Em qualquer lugar civilizado do mundo, nesses casos, a polícia bate e pergunta depois. É por isso que a sua presença física e ostensiva não é necessária: todos sabem que se ela aparecer, a cana vai ser dura. Já aqui, nem com todo o efetivo policial se exibindo, a sua autoridade é respeitada, em virtude dessa vergonhosa passividade.
Enquanto isso, as UPPs botam ordem e segurança nas favelas, nascedouro e criadouro desses marginais, que, não tendo mais clima por lá, vêm a procura dos otários civilizados que pagam impostos para serem assaltados, com a conivência e as bênçãos das autoridades.
E PT saudações...
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