terça-feira, 22 de outubro de 2013

Até quando vai tanto deboche?


Luiz Tito
Na semana passada, esse espaço colocou em destaque a série de matérias publicadas pelo jornal O Tempo, denunciando como crime de lesa-pátria o desperdício da verba pública que se consumou na aventura de transposição das águas do rio São Francisco. O plano era o de se tentar aplacar os efeitos da seca que vitima o Nordeste brasileiro e sua população. Ninguém poderia ser contra essa ideia, mas é flagrante o equívoco das opções adotadas pelo projeto técnico e a criminosa majoração nos custos da obra. Ninguém é capaz de dizer quanto vai custar aquilo que se orçou por R$ 4 bilhões, já se gastou mais de R$ 7 bilhões, e somente metade da obra está concluída.
Escândalos iguais estão todos os dias na imprensa que não se vende às compensações da publicidade pública, fartamente distribuída quando tem por endereço o silêncio dos veículos. Essa prática, a de subornar jornais e suas editorias, é velha, como também velha é a corrupção, o desvio e o furto no erário brasileiro. O que não é velho e está se incorporando ao nosso comportamento é a atitude de concordância e aceitação deste desmazelo, dessa balbúrdia, do escárnio de todos nós, mortais, a essas práticas. Navegar é preciso, como também roubar os barcos, as marinas, as velas e o timão.
No Piauí, um dos Estados mais miseráveis do mundo, um só paciente foi atendido numa clínica do interior, na cidade de Água Branca, nada menos do que 201 vezes no mesmo dia. Quem pagou as consultas? O SUS. Alguém foi preso? Não. Será? Só depois do justo processo legal, de centenas de perícias, recursos, embargos infringentes, depoimentos dos familiares do doente. Anotem: será julgado, condenado e preso o porteiro da clínica, que naturalmente deixou o paciente passar pela roleta as 201 vezes que o mesmo passou para que fosse atendido. Em todos os Estados brasileiros, a saúde pública é uma lástima, um horror, uma desgraça para quem busca seu atendimento pelos serviços de saúde, mas é um dos setores mais agredidos pela corrupção, sempre beneficiada pela impunidade.
‘DESPACHANTE”
Não precisa ir longe. Um deputado federal mineiro, que já foi ministro da saúde, o médico Saraiva Felipe, foi denunciado pela revista “Veja”, desta semana, como “despachante” bem-remunerado de laboratórios farmacêuticos nas entranhas da burocracia de Brasília. Sua fala foi gravada oferecendo serviços de intermediação junto ao Ministério da Saúde e à Anvisa. Os laboratórios oferecem polpudas recompensas ao trabalho do deputado que se orgulha do seu desempenho.
Ser deputado é um bico, uma ocupação de alguns dias que ele tem na semana, valendo-se do uso do espaço na Câmara, da carteira e regalias de deputado federal, de apartamento oficial, de gabinete e suas verbas imorais, de assessores bem-remunerados, de passagens de avião e ainda de seu subsídio, tudo pago com dinheiro público, para que sua Excelência seja estafeta de empresas farmacêuticas. Assim ele mesmo se intitula. Na maior cara-de-pau, como narra a revista. Até quando vai tanto deboche? (transcrito de O Tempo)

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