por Rosemma Maluf
17 de julho de 2012
A cada dia que passa, apesar de todos os avanços científicos e tecnológicos, os fatos confirmam que a peça mais importante para operar qualquer mudança é o próprio homem. A grande mola propulsora está na capacidade que cada pessoa possui de sonhar, de desejar, de querer prosperar, crescer, mudar, criar coisas novas e transformar a sua realidade e o seu mundo.
Ao processo de mobilizar esforços e adquirir conhecimento para conseguir materializar o sonho em realidade podemos chamar de empreendedorismo. O termo empreendedorismo significa se comprometer a fazer algo ou começar algo, ou seja, fazer acontecer. No entanto, sempre que falamos em empreendedorismo, lembramos de empresas, novos negócios, mercado, consumo, ou seja, de tudo ligado ao mundo empresarial e ao capitalismo. Mas, o termo pode ser utilizado, efetivamente, em qualquer área da atividade humana, com a finalidade de atingir um fim específico que pode se transformar em lucro ou em benefício para a sociedade. Empreendedor é o termo utilizado para identificar o individuo que dá início a uma organização.
Em face da crescente problematização social do Brasil, começaram a surgir os empreendedores sociais, termo pouco conhecido pelas pessoas em geral, mas já bastante difundido entre os profissionais do terceiro setor, que segundo definição da Ashoka, uma organização mundial, sem fins lucrativos, pioneira no campo da inovação social, trabalho e apoio aos empreendedores, “são indivíduos que combinam pragmatismo, compromisso com resultados e visão de futuro para realizar profundas transformações sociais.
O Empreendedor Social aponta tendências e traz soluções inovadoras para problemas sociais e ambientais, seja por enxergar um problema que ainda não é reconhecido pela sociedade e/ou por vê-lo por meio de uma perspectiva diferenciada. Por meio de sua atuação, ele acelera o processo de mudanças e inspira outros atores a se engajarem em torno de uma causa comum. São indivíduos com soluções inovadoras para os problemas mais prementes da sociedade. Eles são fortemente engajados e muito persistentes, enfrentando as principais questões sociais e oferecendo novas ideias para a mudança em larga escala. Muitas vezes parecem estar possuídos por suas ideias, dedicando suas vidas para mudar a sociedade. Conseguem ser visionários e realistas ao mesmo tempo, preocupando-se com a aplicação prática da sua visão acima de tudo”.
Podemos citar vários exemplos de empreendedores sociais, Luther King e Gandhi, decorrente da capacidade de liderança e inovação quanto às mudanças em larga escala; Madre Teresa de Calcutá pelo seu trabalho missionário e a Rainha Leonor, fundadora das Santas Casas de Misericórdia, a mais antiga ONG do mundo. No Brasil, já temos alguns exemplos com impacto internacional, como é o caso do CDI – Comitê de Democratização da Informática, de Rodrigo Baggio, no Rio de Janeiro.
Mas, bem próximo, exatamente no Largo de Roma, Península de Itapagipe, sob a proteção de Deus e do Senhor do Bonfim, nós, baianos, temos a honra de ter as Obras Sociais Irmã Dulce – OSID, que começa em 1949, quando Irmã Dulce abriga seus primeiros 70 doentes no galinheiro do Convento das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Com perfil de serviços único no país, a instituição é uma espécie de ‘holding social’ formada por 17 núcleos que prestam assistência à população de baixa renda nas áreas de Saúde, Assistência Social e Educação, dedicando-se ainda à Pesquisa Científica, Ensino Médico, preservação e difusão da história de Irmã Dulce e gestão de unidades de saúde. Ao todo são 1.009 leitos cadastrados para atender a população carente, cobrindo um amplo espectro de patologias clínicas e cirúrgicas e 33 especialidades ambulatoriais.
A instituição não trabalha com planos de saúde: é o maior hospital do Brasil com atendimento integral pelo Sistema Único de Saúde, que cobre 100% dos internamentos e procedimentos ambulatoriais. Nos últimos anos a instituição vem ampliando o alcance de seus serviços e já ultrapassou a marca dos 4 milhões de atendimentos anuais a usuários do SUS, idosos, portadores de deficiências e de deformidades craniofaciais, pacientes sociais e crianças e adolescentes em situação de risco social.
No município de Simões Filho, na Região Metropolitana, mantido também pela OSID, funciona o Centro Educacional Santo Antônio – CESA, que atende a cerca de 700 crianças e adolescentes de famílias de baixa renda oferecendo ensino fundamental (1ª a 8ª série) e profissionalizante, acesso à arte-educação, inclusão digital, atividades esportivas, assistência odontológica, alimentação, fardamento e material escolar gratuitos. O CESA está entre as escolas públicas com a melhor qualidade de ensino da Bahia e, na minha opinião, sua estrutura física e a qualidade de seu corpo docente, a coloca no nível das escolas particulares, o que deveria ser o normal, mas não é em se tratando de escolas públicas no Brasil.
Não temo em afirmar que Irmã Dulce é a maior empreendedora social do Brasil, quem sabe das Américas, já que seu objetivo final nunca foi o lucro, mas o bem social, que com seu amor incondicional e sua vontade de servir ao próximo, abriu mão de todo o conforto e do aconchego de sua família em favor dos mais necessitados. Uma empreendedora nata, que não perdeu tempo em grandes e infindáveis elucrubações teorizantes e partiu para a ação, altamente motivada, com grande capacidade de organização e direção, corajosa, já que assumiu riscos para atingir seus objetivos e que, com sua visão de futuro, buscou sair da lógica da filantropia inicial para a lógica empreendedora, preocupada com a continuidade e sustentabilidade da sua obra. Assim seja, Amém!
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