Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa -
12.12.2012
| 18h03m
Pouco após o início da década de 60 um grupo de amigos, jovens de 25/26 anos, resolveu criar uma associação voltada para as Artes à qual deu o nome de Círculo. Éramos poucos, uns oito ou dez, dos quais quatro eram arquitetos.
Sempre voltada para a palavra, fui nomeada secretária e como tal encarregada das atas das reuniões. Não era nada fácil redigir as atas... Todos falavam de tudo ao mesmo tempo!
Mas realizar o sonho era nosso objetivo e isso nos ajudou a acertar o passo e resolver quando, onde e como inaugurar o Círculo.
Ninguém sofria de modéstia. Sonhamos alto: um coquetel no salão principal do MEC (hoje Palácio Gustavo Capanema), um de nós exporia o "esplêndido" programa do Círculo, e depois ouviríamos umas palavras de ninguém menos que Oscar Niemeyer.
Tudo resolvido, o salão às ordens, a data acertada, só faltava o principal: convidar o mestre, de quem ninguém ali era íntimo, e pedir-lhe que fosse nosso padrinho.
E não é que ele recebeu os dois “embaixadores” carinhosamente, aceitou o convite e compareceu à festa?
Só não falou de Arquitetura. Falou de como era bonito ver um grupo de jovens pensando Arte, que valorizássemos sempre a amizade e a fraternidade, e que viver era mais importante que tudo o mais.
Na hora da saída e dos abraços ele perguntou o que fazia cada um de nós. E foi indo de um em um. E eu apavorada: “o que é que eu vou dizer, Cristo da Abadia. Me ajude!”.
Estava em pleno desenrolar de uma paixão daquelas de deixar o apaixonado cego para qualquer coisa que não fosse o objeto de sua paixão. O Círculo era quase uma imposição dos amigos que me queriam bem e que achavam que eu tinha que sair um pouco do transe...
Chegou a minha vez. E à pergunta respondi com a verdade: "Sou apaixonada".
Pois era o que eu era.
A resposta do mestre foi uma gargalhada daquelas de ecoar pelo imenso salão. Ganhei um abraço e um “Maravilha! Ma-ra-vi-lha!”.
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