Fernando Rodrigues
Há uma boa forma de avaliar o peso do depoimento concedido em setembro pelo empresário Marcos Valério à Procuradoria-Geral da República. Basta pensar no que teria acontecido se tais declarações tivessem sido dadas em 2005.
Há sete anos, Marcos Valério e todos os envolvidos tinham algo em comum: preservavam, de alguma maneira, o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Agora, condenado a mais de 40 anos de prisão, Valério resolveu falar, como mostraram ontem em detalhes os repórteres Alana Rizzo, Fausto Macedo e Felipe Recondo. Revelou ao Ministério Público que teria se encontrado com Lula uma vez dentro do Palácio do Planalto. Que tratou com José Dirceu diretamente do sistema de empréstimos fraudulentos que irrigaram o mensalão. Afirmou ainda, em meio ao seu destampatório, que dinheiro do esquema serviu até para bancar despesas do então presidente da República.
É muita coisa. Essas acusações todas em 2005 poderiam ter precipitado um pedido de impeachment de Lula durante as investigações.
Procurados, os envolvidos ou citados repeliram as novas acusações de Marcos Valério, ou negaram-se a comentá-las. No petismo, a estratégia foi desqualificar a fonte. Como acreditar em um condenado a mais de 40 anos de cadeia?
O PT tem razão. As afirmações de Marcos Valério devem ser matizadas. Assim como deveriam ter sido tomadas com cautela em 2005, época em que o empresário preferia proteger a reputação de Lula. À época, como se sabe, o petista se dizia traído, mas nunca apontou o traidor.
Uma investigação formal, hoje, sobre esse episódio poderá esclarecer pontos obscuros do mensalão. Atestará a inocência de Lula ou provará o seu envolvimento no esquema. Ainda não é tarde para tudo ser explicado aos eleitores brasileiros.
(Artigo transcrito da Folha)
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