sábado, 10 de novembro de 2012

Raquel de Queiroz, a moça da cidade que veio morar na fazenda



A romancista, contista, tradutora, jornalista e poeta cearense Raquel de Queiroz (1910-2003), no poema “Telha de Vidro”, ensina que, um simples toque de criatividade na troca de uma “telha” pode mudar tudo para melhor em nossas vidas.

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TELHA DE VIDRO
Rachel de Queiroz
Quando a moça da cidade chegou
veio morar na fazenda,
na casa velha…
Tão velha!
Quem fez aquela casa foi o bisavô…
Deram-lhe para dormir a camarinha,
uma alcova sem luzes, tão escura!
mergulhada na tristura
de sua treva e de sua única portinha…
A moça não disse nada,
mas mandou buscar na cidade
uma telha de vidro…
Queria que ficasse iluminada
sua camarinha sem claridade…
Agora,
o quarto onde ela mora
é o quarto mais alegre da fazenda,
tão claro que, ao meio dia, aparece uma
renda de arabesco de sol nos ladrilhos
vermelhos,
que — coitados — tão velhos
só hoje é que conhecem a luz do dia…
A luz branca e fria
também se mete às vezes pelo clarão
da telha milagrosa…
Ou alguma estrela audaciosa
careteia
no espelho onde a moça se penteia.
Que linda camarinha! Era tão feia!
— Você me disse um dia
que sua vida era toda escuridão
cinzenta,
fria,
sem um luar, sem um clarão…
Por que você não experimenta?
A moça foi tão vem sucedida…
Ponha uma telha de vidro em sua vida!
(Colaboração enviada pelo poeta Paulo Peres – site Poemas & Canções)

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