quinta-feira, 27 de setembro de 2012

VINHO, CACHAÇA E ÁGUA



Walter Marquart
Na escola que os filhos estudaram, as festas juninas faziam parte do currículo e congraçamento: escola, professores, pais, alunos, vizinhos e amigos. O mestre festeiro, sempre o mesmo representante do corpo docente, prometia e cumpria para que nada abalasse o orçamento, sempre dividido entre os pais. O vinho quente era servido quente (Bah!), legítimo só o cravo da índia, a canela nem tanto, mas o vinho, matéria prima principal, recebia uma recomendação extra; não poderia provocar sintomas negativos; indesculpável se não fosse “o legítimo” elaborado com uvas de procedência confiável.
O mestre confiava em todos os santos, motivo pelo qual elegia vinhos de São Roque (SP), só porque procedia de uma cidade santa. Quem conhece São Roque sabe que se o vinho procedesse da erva de estrada, competiria com a Itália, França, Espanha, Portugal. Sorte dos europeus, o chá de estrada não guarda nenhuma sintonia com as exigências de Bacco. Para os menos avisados, o chá, batido com clara de ovos, fica com o aspecto de espumante, mas o gosto…
Festa junina sem quentão deixa de homenagear os santos festeiros. Eles apreciam ver os fiéis pularem corda, caminharem sobre brasa e de quem abusa dos comes e bebes. Para não haver reclamações dos médicos, farmacêuticos ou laboratórios de químicos, o consumo sempre foi liberado. No dia seguinte os cefálicos sempre encheram os consultórios. Os motivos da dor de cabeça foi sempre o mesmo, aquele pedaço de pão “que não caiu bem”.
Havia sempre um garrafão de água mineral, até copos descartáveis, mas ele permanecia cheio, sem mesmo ter o seu lacre violado. Depois do exagero, que era esquecido no ano seguinte, ninguém prestava atenção aos milagres, o mais esquecido era o santo casamenteiro; experiências sim, mas o milagre não reclamava do casamento. Consumo exigia vontade exagerada, pagamento adiantado, com o lucro sempre revertido para a conclusão da matriz; no dia seguinte o alívio dependia do  diagnóstico e o medicamento “na pinta”. Foram festas onde imperou a ociocracia. Todos pagavam, mas só o mestre festeiro elegia, comprava e não sentia nenhuma dor. O direito de consumir era de todos, e de gemer no dia seguinte, também; restavam os momentos de reflexão, os argumentos idólatras de herdar o reino, mas nunca foi explicado porque os santos juninos se vingavam com aquela crueldade. As festas juninas deverão ser substituídas pelas comemorações em homenagem ao construtor da bomba que implodirá Brasília. Tudo isto para chegar ao assunto que imaginei abordar; como e com o que deveremos festejar a libertação do Brasil, do jugo socialista da matilha do PT do Lula e do PMDB do Sarney. Sabemos existir  pemedebistas que não adoram o mesmo deus, o que não acontece com os petistas, pois todos adoram o deus Lula e o seu parceiro, Mercúrio, filho de Júpiter e Maia, o deus dos ladrões. No caso do STF não libertar o país, no lugar dos festejos, iremos nos cobrir de cinzas; até a cor da toga passará a ser roxa. (Ontem o novo Ministro foi “sabatinado” e todos os senadores ficaram convictos que a dúvida os orientava para que o SIM ficasse para depois da eleição. Parabéns!)
Falei tanto em festejos, já com saudade de uma das filhas, onde almocei; ela serviu uma torta preparada com fina camada de massa, base e cobertura com cebola crocante + gergelim e com recheio sem restrições, elaborado com azeitonas, “nuts” de diversos países e uma generosa quantidade de antepasto de berinjela que o seu pai prepara, mas só quando ela pede (ou exige?). Pronto! Já elegi o prato para as comemorações. Deixarei o vinho por conta do filho que se intitula um atento enófilo. Ele não conhece São Roque.

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