quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O FANATISMO IDEOLÓGICO DE NOSSO TEMPO



Laurence Bittencourt (1)
No Brasil não há fidelidade partidária. Não há confiabilidade em um anúncio ou adesão com fidelidade politica. Ou seja, em se tratando de politica é lamentável a nossa conduta ética, ou melhor, a falta de ética. E por não haver fidelidade partidária, é possível lermos por esses dias, atores que serão importantes quando chegar o momento da campanha presidencial, anunciando apoio a “A” ou a “B”, mas que sabemos poderão mudar o rumo desse apoio segundo seus interesses pessoais. Política no Brasil não é algo sério.
Alguns analistas podem dizer: “mas mudar de partido faz parte do jogo democrático”. Nem tanto, amigo, nem tanto. Aliás, em nosso país o termo democracia se presta aos mais distintos interesses. Na verdade, se tomarmos o conceito de democracia que inspirou e foi adotada no Ocidente e o temos em países desenvolvidos, na Europa e nos Estados Unidos, por exemplo, encontramos algo bastante diferente do que se passa por democracia no Brasil.
Democracia pressupõe partidos definidos, e nós não temos. Democracia política pressupõe o voto não obrigatório, e o nosso é obrigatório. Democracia pressupõe fidelidade partidária, entre nós é o que menos temos. Democracia não pressupõe interesses meramente pessoais e acordo espúrios, dizendo algo agora (esta semana, por exemplo, o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab admitiu apoio a Dilma para reeleição (foto). Mas quem de fato e de sã consciência confia? Quantas vezes já vimos esse tipo de discurso e quando da eleição o sujeito simplesmente altera o rumo, e o pior, encontra argumentos para tanto) para depois mudar o rumo.
A nossa falta de democracia autêntica tem relação direta com a nossa falta de ética na politica. Os nossos costumes políticos estão construídos na ausência de uma ética política.
Por isso as mudanças de partidos tão comuns entre nós. A questão central é: como esperar reforma política de atores (no mais preciso do termo) que se beneficiam dessa não reforma? Não há interesse em fazer reforma política entre os políticos. De onde então poderia partir esse interesse?
É consenso entre as pessoas com quem eu converso dizer que a campanha este ano para prefeito e vereador está um “gelo”, isto é, o eleitor não tem demonstrado o menor interesse. E por quê? Porque ninguém (estou generalizando, claro, mas penso que represente a opinião da grande maioria) acredita na classe política. Há uma falência generalizada na e da política em nosso país. O político “ficha suja” é comum. E o PT, a última esperança ética se mostrou pior do que aqueles que eles tanto condenavam. E pior: cinicamente querem passar a imagem de que não é assim. Como se fossemos todos nós, os eleitores, os contribuintes uns idiotas. Talvez sejamos mesmos.
Depois da revolução de 1917 na antiga Rússia, quando a coisa começou a desandar sob o stalinismo, muitos intelectuais ocidentais não quiseram acreditar na perseguição, no assassinato em massa provocado por Stalin e seus asseclas. Foi preciso que Kruchev ao assumir o poder em 1956 trouxesse à tona o horror stalinista. Claro, desfazer idealizações é difícil. Se livrar de ideais não é fácil. Mas é preciso. Crescer dá trabalho. Mas é necessário.
O comunismo do ponto de vista moral e econômico foi um desastre, da mesma forma que o jacobinismo na França ao instalar o Terror após a revolução francesa de 1789. Foi Hannah Arendt de posse de uma coragem incrível, quem disse que a Constituição americana conseguiu afinal oferecer uma melhor contribuição ao mundo do que a revolução francesa. Da mesma forma foi essa mulher quem alertou o mundo de que a ética kantiana de respeito cego à lei, imperativo, foi usada pelos nazistas como forma de desculpa por seus atos sob Hitler. Mentes lúcidas e inteligentes estão sendo engolfadas a cada dia pelo fanatismo ideológico do nosso tempo.
(1) Jornalista. laurenceleite@bol.com.br

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