E a onda de violência continua em alguns países islâmicos sob o pretexto de protestar contra o filme “Inocência dos Muçulmanos” e contra as charges publicadas no semanário francês “Charlie Hebdo”. Dizer o quê? Eles que são muçulmanos que se entendam. Se seus respectivos governos não conseguem pôr ordem na casa — e se alguns até estimulam as manifestações, a exemplo do que faz o do Egito —, não há muito o que o Ocidente possa fazer a não ser tomar as medidas adicionais de segurança. Isso, em si, não tem muita importância.
O que me preocupa é outra coisa. Os países ocidentais e, sobretudo, suas respectivas imprensas (a nossa também) se tornaram reféns do extremismo islâmico. Da linguagem empregada ao viés das reportagens, há um clamor geral de condenação ao filme e às charges. Não vi nem uma coisa nem outra, mas me ocorre que a liberdade de expressão é um fundamento das democracias — inclusive, vejam só!, para criticar Maomé. E sabem por quê, meus irmãos muçulmanos? Porque, nas democracias de maioria cristã, a Bíblia, Deus, Jesus, o papa, os patriarcas judeus do Velho Testamento — e, claro!, também “O Profeta” — podem e devem ser submetidos ao livre exame das consciências.
O filme é uma boçalidade? Pode até ser. Mas, nas democracias, também se publicam e se divulgam boçalidades. Se fatias consideráveis da população muçulmana são incapazes de entender que os regimes democráticos não podem ser submetidas aos fundamentos do islamismo, então seus respectivos governos têm de agir com a energia necessária para que, ao menos, se contenham.
Ocorre que não é isso o que está em curso. Ao contrário. Governos de países islâmicos — inclusive daqueles que viveram a tal “Primavera Árabe” — estão é estimulando a mobilização, que, ora vejam!, já chegou ao Brasil. Ontem, em Foz do Iguaçu, houve uma “manifestação pacífica” em favor da tolerância religiosa. A maioria dos participantes era muçulmana, mas representantes de outras religiões também foram convidados. Huuummm… Posso fazer de conta que não vi o que vi. Como vi, então não faço de conta.
Tomavam-se por “intolerância”, ali, claramente, o tal filme e as charges, não os protestos violentos que varreram boa parte do mundo, fazendo vítimas. O fato de a manifestação ser pacífica não nos impede de questionar: aquela era também uma manifestação em favor da TOLERÂNCIA COM QUEM PENSA DIFERENTE? O que queriam os de Foz do Iguaçu? Mandar aos muçulmanos do resto do mundo a mensagem de que eles também estão indignados com as supostas “ofensas” ao Islã ou lhes dizer que estão errados ao sair pelas ruas quebrando o que veem pela frente? Infelizmente, eu sei a resposta, e ela não é boa.
Não! Os muçulmanos não têm nada a ensinar em matéria de tolerância com o outro, com a diferença. Aliás, nem mesmo existe um só Islã, não é? E, no que se dividem, assistimos a batalhas verdadeiramente sangrentas. Mas eles têm muito a aprender. Gozam, nas democracias, de uma liberdade religiosa que os países islâmicos jamais concederam àqueles que não pertencem à sua fé. Um pastor protestante está condenado à morte no Irã. Acusação: ter-se convertido ao cristianismo. Que país muçulmano é hoje exemplo de liberdade religiosa? Como eu a concebo, nem mesmo a Turquia, uma sedizente “democracia islâmica”. Nem tão democrática que se possa criticar… “O Profeta”!
Os que foram às ruas ontem, em Foz do Iguaçu, estavam pedindo tolerância religiosa também nos países islâmicos? Ou, ao condenar filme e charges, explicavam e justificavam, de modo oblíquo, a violência que toma conta de boa parte do mundo? E tudo por causa de um filme amador, que jamais seria notícia, não fosse justamente a… fúria popular organizada por extremistas, tolerada e até apoiada por governos?
Terão, doravante, as respectivas Constituições das democracias ocidentais de contar com uma cláusula de exclusão? Que tal esta: “É assegurada a liberdade de pensamento e de expressão, menos em assuntos que se refiram ao Profeta Maomé”? Ban Ki-moon, esse banana que é hoje secretário-geral da ONU, certamente concordaria com o texto. Afinal, segundo ele, a liberdade de expressão é um “privilégio” que tem de ser usado com parcimônia…
Essa tal “Primavera Árabe” fica, realmente, a cada diz mais interessante, não é? Até agora, não se viu por lá uma só conquista típica das democracias (também existem eleições em ditaduras!), mas já estamos, nos países ocidentais, flertando com seus valores ditatoriais.
O choque de civilizações previsto por Samuel Huntington não vai acontecer. Antes disso, os “cruzados” jogam a toalha…
Que dias estes!
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