sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Um paraíso chamado Pantanal



Sebastião Nery
Jânio Quadros, que andou confinado em Corumbá (MS), gostava de contar essa história. Farid Jamil, comerciante de Ponta Porã, rei da fronteira de um lado e do outro, amigo do governador Pedro Pedrossian, deu uma grande festa no casamento do irmão.
Estava lá o mundo político do Estado inteiro (ainda era um Mato Grosso só), inclusive o general comandante da região, naqueles tempos do poder militar, em que o general era sempre a autoridade mais importante.
O general ficou impressionado com o fausto da festa, chamou o deputado Levy Dias, da Arena:
- Deputado, me diga uma coisa. Qual é o forte dessa gente, é a pecuária?
- General, não procure se aprofundar. Se o senhor se aprofundar, sai da festa.
Daí a pouco, o general saiu. Tinha se aprofundado.
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BRASIL PROFUNDO
Visto de  cima, o Pantanal é uma imensa savana de pasto e água, aves, cores e rios sem fim serpenteando pela verde planície infinita. A sorte da Bahia foi Pedro Álvares Cabral ter vindo de caravelas. De avião, o Brasil teria sido descoberto no Pantanal e não em Porto Seguro.
Mato Grosso, mais o do sul, pantanoso, que o do Norte, amazônico, continua um grande mistério do Brasil profundo, vivendo sobre as águas, com seus rios, pastos, pântanos, peixes e pássaros, atravessando planícies sem fim, saltando fronteiras, meio Brasil meio espanhol.
Águas, rios, pastos, pântanos, tudo nos separa. Só o boi, o peixe e o pássaro nos unem. O boi, o peixe, o pássaro e o contrabando.
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O EIXÃO DO RIO
São 230 mil quilômetros quadrados, com doze municípios entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Cercado ao norte pelas serras dos Parecis, Azul e Roncador, a leste pela serra de Maracaju, ao sul pela Serra de Bodoquena e a oeste pelos charcos paraguaio e boliviano.
O eixão do Pantanal é o Rio Paraguai, com largura média de 170 metros, cortando a região de norte a sul e recebendo gordos afluentes, como o Miranda, o Aquidauana, o Taquari, o São Lourenço, o Cuiabá.
Maior área úmida continental do planeta, no Brasil, Paraguai e Bolívia, 65% em Mato Grosso do Sul, uma imensidão de terras alagadas, banhadas pela bacia do Paraguai. Desde 2000, é Reserva da Humanidade.
São 40 espécies de anfíbios, 102 de mamíferos, 177 de répteis, 264 de peixes, 652 de aves: capivara, porco do mato, onça pintada, cervo, arara azul, tamanduá mirim, tuiuiú, jibóia, água pescadora, jacaré papo-amarelo.
As grandes cheias, entre outubro e abril, fazem surgir enormes lagos, baías e braços de rios. A melhor época para ver, pescar, vadiar, é esta, com as águas mais baixas e o horizonte mais perto: entre maio e setembro.
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TODO ESPANHOL
O Pantanal já foi todo espanhol. Já era espanhol antes de Cabral, em 1500. Foi espanhol de 1494, no Tratado de Tordesilhas, até 1750, no de Madrid. Até 370 léguas de Cabo Verde, era Portugal. Daí em diante, Espanha, inclusive os dois Mato Grosso inteiros, com pantanal e tudo.
Até que o português Pedro Aleixo andou por aqui, de olho, em 1525. Mas, logo depois de 1600, os jesuítas espanhóis, que eram o MST dos reis da Espanha, chegaram e armaram suas barracas, com seus rosários na mão.
Fundaram missões entre os rios Paraná e Paraguai. Mas bandeirantes paulistas pelo sul, garimpeiros baianos pelo norte, foram entrando e ficando.
Até que, em 1750, o Tratado de Madrid empurrou a Espanha para trás, para as fraldas geladas da Cordilheira dos Andes. Cuiabá já tinha baianamente nascido em 1719. E os presidentes Dutra e Jânio Quadros, o verdugo Filinto Muller e o norteamericano Roberto Campos, o diretas-já Dante de Oliveira, o governador Zeca do PT, o poeta imenso Manoel de Barros, a bela congresseira Cristina Castelo e a índia maravilhosa Luiza Brunet, jardineira de Yasmins, viraram todos brasileiros.

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