Ricardo Setti
Tem muita gente batendo palmas para o presidente autoritário e bolivariano do Equador, Rafael Correa, por seu governo haver concedido asilo a Julian Assange, do WikiLeaks, refugiado na embaixada equatoriana em Londres.
O governo britânico já declarou que em hipótese alguma concederá salvo-conduto a Assange, uma vez que ele não é objeto de perseguição política, mas, sim, procurado pela polícia da Suécia sob a acusação de haver cometido quatro diferentes crimes sexuais.
Correa vem sendo saudado como um bastião das liberdades públicas — justamente ele, que já fechou, à margem da lei, emissoras de rádio e TV independentes, e invariavelmente tem tentado calar a boca da oposição e da imprensa livre em seu país,
Pois vou emitir aqui minha modesta opinião sobre os três motivos de Correa:
1. Ele fez esse gesto para Assange porque a divulgação de documentos pelo WikiLeaks, até agora, em 90% dos casos afetou os interesses dos Estados Unidos, o “monstro imperialista” de sempre, o alvo principal do “bolivarianismo” chavista.
2. Ele quer dar uma mostra da “valentia” bolivariana ao enfrentar o “imperialismo britânico”, tão venenoso, insidioso e cruel como o “imperialismo americano”.
3. Ele quer pura e simplesmente aparecer e, uma vez mais, como faz desde sempre, ganhar as manchetes e as atenções da imprensa e da opinião pública equatorianas.
Considerar, como fez o governo do Equador, que o militante australiano pode ser vítima de “perseguição política” em território europeu — como se a Europa fosse o Sudão, a Coreia do Norte ou a própria Venezuela, que o presidente Correa tanto venera — é uma piada de péssimo gosto.
O chanceler britânico William Hague, a esse respeito, ressaltou que os direitos de Assange estão “totalmente garantidos pela legislação europeia em matéria de extradição”, e que sua transferência para a Suécia para ser interrogado pela polícia se dará “em condições de absoluta segurança”.
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