sexta-feira, 17 de agosto de 2012

No pódio, o disparate, por Maria Helena R.R.de Sousa



Imagine que você tem 12, 13 anos. Está em plena idade que os franceses apropriadamente chamam de l’âge bête. Você sabe que seu colégio não pode reprovar ninguém, sabe que a aprovação é automática. Fala sério, você vai queimar as pestanas em cima dos livros?
Mais tarde um pouco, ao escolher se vai ou não para a faculdade, você, se é aluno de uma escola do Estado, sabe que tem vagas garantidas e, portanto, vai continuar a poupar suas pestanas. E se é aluno de uma escola privada, vai ficar desestimulado pois sabe que pelo menos 50% das vagas já têm dono.
Sim, esse é o novo sistema de cotas: 50% das vagas serão disputadas por todos os vestibulandos. As vagas restantes – lembrem-se, os outros 50% - irão para os alunos das escolas públicas.
Será que algum burocrata pensou na qualidade das turmas nas faculdades? E nos professores que terão que lidar com o aluno chegado de uma escola Triplo A sentado ao lado de outro de uma escola que era indigente até em giz?
Tudo isso com que intuito? Fazer justiça social à custa de nossos jovens? Não era melhor e muito mais decente reformar nosso sistema de ensino e transformar nossas escolas públicas em ilhas de excelência?
E que não me venham com a ‘direita nefasta’ contra a ‘brava esquerda’ dedicada ao bem comum. Pois nenhuma das duas cuidou do essencial - da Educação. Caso contrário hoje estaríamos a meio caminho de uma situação como a da Coreia do Sul que levou 20 anos – uma geração completa – mas saiu do atraso feudal que a envergonhava.
Ao ler sobre essa nova absurda quantidade de cotas destinadas a quem não tem culpa de nada e que vai continuar sem saber o que lhe aconteceu, fico tentando imaginar o que se passou na cabeça dos burocratas que mangicaram essa barbaridade.
Jurar não posso, mas quer me parecer que eles acharam mais fácil e menos trabalhoso diminuir as exigências na hora do ingresso na faculdade. Os pais vão ficar felizes –meu filho está na faculdade! – e o Estado está livre de explicar porque a maioria não passa no exame de acesso. Que pode continuar a ser haddadiano, afinal, as cartas já estão marcadas.
O curioso – será? – é que nós já tivemos escolas públicas da melhor qualidade. Não conheço de outros estados, por isso peço permissão para citar apenas escolas do Rio: Pedro II, André Maurois, Amaro Cavalcanti, Desembargador Oscar Tenório, Soares Pereira, e muitas outras. Ser professor de Escola Pública e fazer carreira no Estado era uma honra. A cidade conhecia e valorizava seus mestres.
Faziam parte da elite quando ser da elite significava ser o ‘que há de mais valorizado e de melhor qualidade em um grupo social’.
Será que hoje, ao contrário, quanto mais rasteiro, melhor?

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