DE ONDA A TSUNAMI
Por Carlos Chagas
É preciso insistir no assunto. Por que, em pouco mais de dois meses, o país foi tomado por monumental onda de greves, prevendo-se para depois de agosto um tsunami de proporções asiáticas?
Vale, de início, a ressalva: porque os assalariados, públicos ou privados, sentem a cada dia diminuir o valor do que recebem pelo seu trabalho, em proporção aritmética, ao tempo em que suas despesas aumentam em proporção geométrica. Não se fala, por certo, das minorias incrustadas no aparelho estatal, do tipo ministros, procuradores, parlamentares e penduricalhos. Sequer vale citar os vigaristas das estruturas privadas, do tipo banqueiros, empreiteiros, empreendedores, bem nascidos e similares. Estes, como aqueles, constituem a casta de quantos, milenarmente, vivem às custas da maioria.
A indagação vai por conta da gente comum, da massa de funcionários públicos, professores, trabalhadores, operários e até integrantes das profissões ditas liberais que de repente protestam contra o modo de vida a que se encontram reduzidos. Pouco importa se componentes das massas miseráveis subiram de patamar, claro que não tanto quanto a propaganda oficial alardeia, porque na hora das greves são eles a integrar os primeiros contingentes do protesto.
Do que se indaga é das razões de porque, de um dia para outro, despertou a indignação dos oprimidos, alguns, até, sem motivos para indispor-se tão depressa assim diante de injustiças milenares.
É nessa parte da equação que se questiona a forma, não o fundo. Alguma influência exógena terá precipitado a reação natural e justa das camadas oprimidas, acima e além de seus reclamos naturais.
Aqui pode repousar a resposta dessa charada envolta num mistério circundado por um enigma de proporções mais do que definidas: estão querendo despertar forças naturais através de métodos canhestros cujo objetivo é domínio do poder. Quem? Aqueles empenhados em desempenhar o papel de defensores dos oprimidos, ainda que pretendendo oprimi-los um pouco mais. A CUT e o PT e seus serviçais. Com que objetivo? De retomar o controle do Estado e de suas instituições, que um dia, durante os oito anos do governo Lula, mantiveram através da contenção dos movimentos sociais, conseguindo sufocá-los.
Descobre-se a chave para a compreensão dessa nova realidade. Querem enquadrar a presidente Dilma, transformá-la no marionete que era quando escolhida pelo primeiro-companheiro para sucede-la, transformando-se numa sombra. Acontece que a presidente, se não libertou-se, ao menos sacudiu a crosta em que pretendiam envolve-la. Estrilou e discordou do modelo engendrado para torna-la mero interregno entre dois mandatos do Lula.
Como combate-la? Ironicamente, com as armas que serviram para derrotar a ditadura. Estimulando greves que não tiveram lugar nos dois mandatos anteriores. E que não teriam agora caso a personalidade de Dilma fosse outra. Na verdade, imaginaram deter o poder integral. Contrariados, tratam-na como adversária.
Ninguém se iluda, vem mais por aí, atingindo outras categorias do serviço público e, em especial, estendendo-se à área privada. Metalúrgicos e bancários estão sendo preparados.
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