quinta-feira, 19 de julho de 2012

Coincidências - por Zuenir Ventura


Enviado por Rádio do Moreno - 
18.7.2012
 | 
9h35m
ZUENIR VENTURA


Ao contrário de Rosane Collor, que disse só acreditar em "jesuscidências", atribuindo tudo o que lhe acontece à vontade divina, eu só creio em coincidências e acasos, graças aos quais, aliás, tenho tido alguns problemas com meu livro recém-lançado, "Sagrada família". É que embora seja de ficção, algumas pessoas estão se identificando ou se confundindo com seus personagens, que na verdade são imaginários ou, no máximo, livremente inspirados na realidade. Em Paraty, durante a Flip, fui abordado na rua por um leitor que me disse com convicção: "O farmacêutico do seu livro é de Campos." Como frequentei essa cidade na minha adolescência, fiquei na dúvida e pensei: "Será que inconscientemente me apropriei de algum conhecido de lá?" Depois, a ficha caiu: o leitor campista queria dizer que conhecia um farmacêutico que era tão libidinoso quanto o da história. Também a fictícia Florida do romance tem sido reconhecida como a cidade natal de alguns leitores. A tia Nonoca do romance então parece ter muitos sobrinhos na vida real. 

Outro atento observador viu uma homenagem ao Millôr no nome do narrador da história, que se chama Manuéu (em vez de Manuel) por causa de um erro ortográfico cometido pelo escrivão na hora do registro de nascimento. Como se sabe, o nosso grande humorista morto recentemente era Milton de batismo, mas que grafado à mão na certidão virou Millôr por engano. Gostei da ideia e transformei o acaso em intenção. Passei a dizer, para todos os efeitos, que é mesmo um justo e devido tributo ao amigo. Agora, acabo de ler que no município de Lavras de Mangueira, no interior do Ceará, um dos candidatos à prefeitura tem o apelido de Pé de Chumbo, o mesmo do bebum de "Sagrada família". Com uma diferença: o "meu" reagia xingando quando era assim chamado ("Pé de Chumbo é a mãe, seu fdp"). Já o outro não se ofende quando o adversário diz que ele é "um candidato difícil de carregar". Só espero que essas coincidências e semelhanças casuais não deem margem a processos de indenização, uma prática de advogados que gostam de faturar com o trabalho dos outros. 

Já que comecei falando de Rosane Collor, me ocorreu, assistindo às suas confissões no "Fantástico", que ela poderia servir de modelo para a bela e disputada Andressa Mendonça, que devia também "aceitar Jesus" e contar as "jesuscidências" acontecidas entre o ex-marido, Wilder Morais, suplente de Demóstenes Torres, e o atual, Carlinhos Cachoeira (não se sabe o que ela lucrou com a troca, já que se diz que os dois são igualmente ricos. Qual terá sido a motivação, o borogodó do bicheiro?). O problema é que nesses casos elas só costumam falar quando são rejeitadas.
Publicado no Globo de hoje.

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