Augusto Nunes
Integrante do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, a ministra Cármen Lúcia teve de suspender por alguns minutos o exame de coisas sérias para ler a petição encaminhada pelos advogados Marcelo Figueiredo, Marco Aurélio de Carvalho, Gabriela Shizue Soares de Araújo, Fábio Roberto Gaspar e Ernesto Tzulrinik. Os bacharéis a serviço do PT pedem à destinatária que explique aos colegas do STF que o julgamento do mensalão coloca a pátria em perigo e ameaça o futuro da nação.
Confira os principais argumentos dos cinco doutores, transcritos em negrito, acompanhados por ligeiros comentários entre parênteses:
“O desequilíbrio, em desfavor dos partidos envolvidos, é evidente”. (Os signatários da petição estão dizendo em juridiquês de palanque que o PT vai ficar mal no retrato justamente na temporada de caça ao voto. Não necessariamente, deve-se registrar.. Só haverá “desequilíbrio em desfavor” do partido se os acusados tiverem culpa no cartório. Como vivem jurando que são inocentes, o PT deveria estar feliz: não existe lugar melhor que o STF para desmascarar a farsa tramada pela oposição e mostrar ao eleitorado que merece ser castigada nas urnas essa gente que insiste em punir homens honrados).
“Tem-se o pior dos mundos: a judicialização da política e a politização do julgamento”. (“Judicialização da política” e “politização do julgamento” são expressões sinônimas. Em língua de gente, os doutores estão querendo acabar de vez com essa mania de julgar figurões do PT que se meteram em bandidagens. Para os pecadores companheiros, o melhor dos mundos é o Brasil que institucionalizou a corrupção impune. O pior é qualquer país cujas cadeias têm vagas para criminosos de qualquer categoria econômica ou classe social).
“Perde a Democracia, com a realização de uma eleição desequilibrada. Perde a República, com o sacrifício dos direitos dos acusados ao devido processo legal”. (Quem escreve Democracia com D maiúsculo costuma louvar a ditadura de partido único em conversas amigas. O sistema democrático só tem a ganhar quando a Justiça deixa claro que todos são iguais perante a lei. A República só tem a ganhar quando inimigos do Estado de Direito descobrem a existência do Código Penal. Os acusados exerceram seus direitos até o limite da paciência. O mensalão foi descoberto há sete anos. Faz cinco que o processo no Supremo começou. Se os mensaleiros não foram devidamente defendidos, a culpa é dos advogados).
O chefe supremo da seita deveria estar eufórico com a chance de desmascarar os golpistas que tramaram a derrubada do governo. O rebanho deveria estar festejando a chance de provar que o mensalão não existiu. A desesperada tentativa de adiar a hora da verdade grita que os farsantes são eles. A petição dos cinco doutores merecia ser incorporada aos autos do processo. É mais uma das tantas provas contundentes contra os réus. É uma confissão de culpa, com rubrica e assinatura.
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