sexta-feira, 12 de junho de 2015

A INESQUECÍVEL E INIGUALÁVEL CARMEM MIRANDA


Posted: 09 May 2015 08:27 AM PDT

Mesmo depois de sua morte, Carmen Miranda é lembrada por ser talvez a mais importante personalidade artística brasileira de todos os tempos, sendo considerada pelo American Film Institute, uma das "500 GRANDES LENDAS DO CINEMA".

O inicio de carreira de Carmem... Vários compositores almoçavam na pensão, entre eles Pixinguinha e seu grupo, e Carmen foi ficando popular como cantora: cantava em festas, reuniões e festivais. Tinha uma interpretação diferente, um quase imperceptível sotaque português que fazia mais graciosa sua apresentação. Seu repertório era composto basicamente de tangos. Em 1928, Carmen conheceu o compositor e violonista baiano Josué de Barros, que, impressionado com o seu talento, iniciou a jovem no meio artístico. O compositor, igualmente talentoso, tinha o mérito de ter “introduzido a MPB na Europa, antes da Primeira Guerra Mundial. Contudo, numa declaração de modéstia, Josué declarou em 1955 que a sua biografia podia ser escrita com três palavras: ‘eu descobri Carmen’.

A partir daí Josué passou a acompanhá-la em recitais, ensinou-lhe músicas populares, e, contra a vontade do pai, que não queria ver a filha “metida com essa coisa de música”, levou Carmen à Rádio Sociedade e depois a outras emissoras. (Logo seu José Maria foi vencido pelo sucesso da filha). Decidido a investir na cantora, Josué conseguiu com que ela gravasse um disco na gravadora Brunswick, com as músicas Não vá simbora e Se o samba é moda, ambas de Josué. O disco demorou a sair e surgiu uma nova oportunidade, a de fazer um teste na RCA Victor. Foi aceita imediatamente e em seguida gravou o seu segundo disco, com as músicas Triste jandaia e Dona Balbina, também de Josué de Barros. Como o primeiro disco ainda não havia sido lançado, os dois saíram simultaneamente, em janeiro de 1930.

O seu primeiro grande sucesso veio nesse mesmo ano, a marcha Ta-hi!, de Joubert de Carvalho. Desde então sua vida mudou completamente. Em menos de seis meses já era considerada a maior cantora popular brasileira. Passou a ser requisitada em festas e festivais promovidos por jornais e teatros, para cantar ou apenas comparecer, sua presença já era motivo de destaque.

Em 1931, excursionou para a Argentina junto com os cantores Francisco Alves, Mário Reis e o bandolinista Luperce Miranda, obtendo o primeiro êxito no exterior. Foi para esse país como cantora mais oito vezes (de 1933 a 1938). No ano seguinte participou de vários shows para promover músicas carnavalescas e fez uma grande excursão pelo nordeste do Brasil. Em 1933, Aurora Miranda, sua irmã mais nova, passou a acompanhá-la como cantora em diversos shows.

Sua estréia no cinema se deu em 1932 com o filme O Carnaval Cantado de 1932, e no ano seguinte A Voz do Carnaval, ambos de Adhemar Gonzaga. Carmem atuou em outras produções, todas de Wallace Downey: Alô, Alô, Brasil (1935); Estudantes (1935); Alô, Alô, Carnaval (1936) e Banana da Terra (1939), seu último filme no Brasil, no qual interpretava “O que é que a baiana tem?” acompanhada pelo Bando da Lua. Foi nesse filme que criou o estilo que a consagrou no mundo inteiro: roupas de baiana, turbantes, balangandãs, sandálias plataforma, as conhecidas gesticulações dos braços e do corpo.

Carmen foi cantora exclusiva de diversas rádios: Victor (em São Paulo), Mayrink Veiga (onde foi “a primeira cantora de rádio a merecer contrato, quando todos recebiam somente cachês”), Odeon e Tupi. Recebeu diversos slogans: “Cantora do it”, “Embaixatriz do samba”, “Ditadora risonha do samba” e, o mais significativo, “Pequena Notável”, sendo os dois últimos criados por César Ladeira, famoso radialista.

Em 1938 seu pai faleceu. Carmen ficou muito abalada e pensou até em abdicar de sua carreira, mas tinha vários contratos fechados. Até 1939, ano em que foi morar nos Estados Unidos, a Pequena Notável cantou em cinemas, cassinos, teatros, rádios e feiras, além das diversas excursões que fez a São Paulo e à Argentina. Quando estava em temporada no Cassino da Urca, foi contratada pelo empresário norte-americano Lee Schubert, que ficou impressionadíssimo com o seu talento, para ser uma das principais intérpretes na revista musical The Streets of Paris, na Broadway, ao lado de grandes nomes.

Três dias antes da sua partida, houve uma festa de despedida no auditório da Rádio Mayrink Veiga e César Ladeira celebrou o triunfo de Carmen com essas palavras: ‘Contratada diretamente, sem nenhum empenho particular de quem quer que seja, apenas pelo valor pessoal, pelo valor indiscutível de sua arte incomparável, Carmen Miranda vai levar a música do Brasil em sua expressão mais encantadora para a Broadway.’” Lee Schubert não queria que Carmen levasse o Bando da Lua, mas a cantora exigiu que o grupo a acompanhasse e se comprometeu a pagar as despesas de três dos sete componentes do grupo. Carmen e o Bando da Lua seguiram para os Estados Unidos em maio de 1939.

Ela está nas declarações de um dos maiores pensadores do século 20, o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein que descrevia os filmes de Carmen como "duchas que ele gostava de tomar depois de ensinar filosofia". Sua imagem também está no elogio do poeta Vinicius de Moraes que comentava que ela "tinha a essência da verve de uma artista".

Seu pai, José Maria Pinto da Cunha, deixou Portugal em 1910 para tentar a vida no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, e montou uma barbearia; Sua mãe, Maria Emília Miranda da Cunha, só veio ao Brasil quando o marido estava estabelecido. Trouxe com ela as duas filhas pequenas do casal, Olinda (1907 - 1931) e Maria do Carmo, então com um pouco mais de um ano de idade. O casal teve mais quatro filhos, todos cariocas: Amaro, Cecília, Aurora e Oscar.

Maria do Carmo passou a ser chamada por Carmen pela família quando ainda era adolescente, por influência da ópera Carmen, de Georges Bizet. Desde criança a menina tinha propensão para cantar. Mas queria ser freira, e só não realizou seu sonho por interferência do pai. Estudou num colégio de freiras mas não chegou a completar o curso ginasial porque, aos 14 anos, precisou interromper os estudos para trabalhar e ajudar no sustento da casa. Foi balconista numa loja de gravatas e aprendiz de chapelaria numa loja de chapéus femininos. Era muito criativa e excelente vendedora. Em 1925, passando por graves problemas financeiros, S. José e D. Maria Emília resolveram abrir uma pensão em sua própria casa para tentar aumentar a renda da família e para que todos os filhos pudessem trabalhar. Olinda, sua irmã mais velha, era costureira e ensinava o ofício a Carmen, que aprendia rapidamente e logo passou a fazer suas próprias roupas. Olinda era considerada a mais bonita de todas as irmãs, e cantava muito bem. Mas morreu jovem, aos 23 anos, vítima da tuberculose. Todos os seis irmãos tiveram propensão à música, herdada da mãe, D. Maria Emília, que também cantava muito bem.

Para Caetano Veloso, que teve Carmen como uma de suas musas no Tropicalismo, ela "era mais uma ausência do que uma referência nas conversas sobre música popular no Brasil pós-Bossa Nova", escreveu o cantor e compositor em seu livro "Verdade Tropical" (1997). "O fato de ela ter se tornado uma figura caricata de que a gente crescera sentindo um pouco de vergonha, fazia da mera menção de seu nome uma bomba de que os guerrilheiros tropicalistas fatalmente lançariam mão", continua Veloso, contando como Carmen chegou a ser resgatada no final dos anos 1960. "Ela criou um estilo e uma fantasia que sempre me lembram o Charles Chaplin. Para ele, era a cartola e a bengala, e para ela, foi realmente o traço estilizado da baiana."

Para o crítico de cinema Dave Kehr do The New York Times, Carmen Miranda foi "uma das poucas artistas que atravessaram o espectro cultural, deixando sua marca absurda e pomposa na representação feminina." E a compara como a precursora de Jerry Lewis, que "trouxe uma imprevisível anarquia ao sisudo mercado (norte-americano) de estúdios de filmagem".

Em 1952, uma pesquisa realizada pela revista norte-americana “Variety” apontou Carmen como a mulher mais imitada dos Estados Unidos. Em Hollywood, ela foi central no cenário estético e tecnológico dos anos 1940. Seus figurinos e coreografias participaram e contribuíram em tendências da moda e até mesmo no desenvolvimento da tecnologia da cor no cinema.

Foi Carmen também quem ajudou a encurtar distâncias entre as Américas. É o que explica o historiador Antonio Pedro Tota. Em seu livro Imperialismo Sedutor, ele a considera o elo da então relação amigável entre Brasil e Estados Unidos, explicitada nas telas de cinema. A idéia de propagar a liberdade nas Américas e promover filmes e cines-jornal sobre a terra do Tio Sam colocou Carmen Miranda no ápice do universo cinematográfico. O seu primeiro Longa-metragem, Serenata Tropical "tirou" a 20th Century Fox do "vermelho". Mais do que isso: nas gravações, Carmen representou o Brasil e se consagrou justamente por ser uma artista completa - ela cantava, dançava e atuava. “Carmen Miranda foi a maior embaixadora do Brasil nos EUA naquela época. Uma artista genuinamente brasileira, apesar da sua origem, que representava o país, beneficiado pela imagem dela, em vez de ser representado por uma americana forçadamente versada em latina“, diz João Batista de Almeida, professor de comunicação da Universidade de Ribeirão Preto.

Foi a primeira artista brasileira a lançar moda, inclusive nos EUA – o “Miranda look” foi adaptado e usado nas ruas em todo mundo ocidental e ainda hoje influencia muitos estilistas que nela buscam inspiração. O sucesso foi tanto que as luxuosas lojas da Quinta Avenida, em Nova York, substituíam as criações de Dior e Chanel pelas suas fantasias de baiana, seus sapatos plataforma e turbantes.

Na década de 90 a cantora foi requisitada pela moda no Brasil que estava se organizando e tentando estabelecer um calendário unificado para os desfiles. A imagem de Carmen Miranda tornou-se tão importante para esse setor que a artista foi resgatada durante todo o processo de estruturação do campo da moda no país.

Em 1991, o jornalista e crítico Paulo Francis resumiu numa frase a alma do mito. "Sua personagem é uma criação tão inspirada quanto o Carlitos, de Charlie Chaplin". Não é à toa que ambos foram dois dos precursores do bom humor na arte que desfrutamos hoje.

"Acredito que a visão em relação à figura de Carmen está mudando, as pessoas estão vendo com mais clareza o impacto que ela causou tanto na nossa cultura como na dos Estados Unidos. O legado dela está sendo mais valorizado, na época havia uma elite que não queria ver a imagem do país associada a Carmen e às músicas que cantava. Mas ela continua sendo um ícone tão forte que jamais envelheceu e segue despertando o interesse de diferentes gerações" comenta Helena Solberg que em 1995 dirigiu o filme Carmen Miranda: Bananas is my Business. No mesmo ano, o Lincoln Center, de Nova York, promoveu espetáculo em lembrança do 40° aniversário de sua morte, com direção de Nelson Motta e participações de Bebel Gilberto, Aurora Miranda, Eduardo Dusek, Maria Alcina, Marília Pêra e outros. O repertório de Carmen Miranda serviria de molde para cantoras muito posteriores como Gal Costa (Balancê), Elis Regina (Na batucada da vida), Paula Toller (E o mundo não se acabou), Marisa Monte (South American Way), Adriana Calcanhotto (Disseram que Voltei Americanizada), Daniela Mercury (O Que É que a Baiana Tem?) e Ivete Sangalo (Chica Chica Boom Chic). Isso porque, além de antecipar a era multimídia, inventar um molde fashion, prenunciar a atitude tropicalista e sacudir a embrionária cena do show business, Carmen ainda plantou sólidos alicerces da chamada linha evolutiva da MPB.

"Nós tendemos a esquecer, mas nenhuma mulher brasileira nunca foi tão popular como Carmen Miranda - no Brasil ou em qualquer lugar." disse Ruy Castro a revista norte-americana Newsweek, cuja biografia "Carmen" (Companhia das Letras) lançada em 2005, conquistou o Prêmio Jabuti de livro do ano de não-ficção em 2006.

Por conta do uso cada vez mais freqüente dos barbitúricos para poder dar conta de uma agenda extenuante, Carmen desenvolveu uma série de sintomas característicos do uso de drogas, seu médico brasileiro constatou a dependência química e tentou desintoxicá-la. Ficou quatro meses internada em tratamento numa suíte do hotel Copacabana Palace. Carmen melhorou, embora não tenha abandonado completamente remédios. Os exames realizados no Brasil não constataram alterações de freqüência cardíaca.

Quatro meses depois regressou aos EUA, para reencontrar seu marido e reassumir seus compromissos como artista. Aceitou todas as propostas de trabalho, e, estafada, aos 46 anos, em 5 de agosto de 1955, após uma apresentação num programa de TV, teve um enfarte fulminante quando ia dormir. Estava sozinha, em seu quarto, e só foi encontrada no dia seguinte, por seu marido. Foi enterrada no cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. O enterro foi acompanhado por mais de 500 mil pessoas cantando Ta-hi!, seu primeiro sucesso e Adeus batucada.

D. Maria, sua mãe, voltou para o Rio e viveu na casa que era de Carmen até sua morte, em 1971. David Sebastian, seu marido, que só veio conhecer o Brasil no dia do enterro de Carmen, voltou para os Estados Unidos para retomar seu trabalho como empresário e, pouco tempo depois, casou-se com uma amiga do casal que, ironicamente, chamava-se Carmen. Ficou explícito que David como empresário explorou sua esposa, e a fez sofrer muito com sua indiferença pelo Brasil.

No ano seguinte, o prefeito do Rio de Janeiro Francisco Negrão de Lima assinou um decreto criando o Museu Carmen Miranda, o qual somente foi inaugurado em 1976 no Aterro do Flamengo.

fonte - http://remiltonroza.blogspot.com.br/2015/05/a-inesquecivel-e-inigualavel-carmem.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed:+CruzandoOUmbral+(CRUZANDO+O+UMBRAL)

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