domingo, 1 de março de 2015

A ilha do dono do Google


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Por Leandro Beguoci
As Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, receberam mais investimentos estrangeiros em 2013 do que Brasil e Índia combinados. O que você espera, então, de um país que recebe tanto dinheiro? Exatamente isso: iates, resorts e tudo aquilo que faz com que as ilhas sejam um paraíso natural e fiscal ao mesmo tempo. Embora, é bom que fique claro, nem todo dinheiro da ilha tenha vindo da contabilidade criativa de outros países. O turismo também dá uma baita força.
Fui para lá na primavera do hemisfério norte, quando a temperatura é ideal para tratar o rum como se fosse água. Também pode ser ótimo para escrever linhas e mais linhas de código num quarto de hotel com vista para o mar, se você já pensou um ser um nômade digital — a escolha é sua. De qualquer forma, vale muito a pena fazer o pinga-pinga aéreo: São Paulo-Miami-Ilhas Virgens Americanas e então um barco até as Ilhas Virgens Britânicas. Foi essa a conexão que fiz via American Airlines.
As ilhas são um daqueles cantos do planeta (cada vez mais raros) em que a rainha da Inglaterra ainda é chefe do Estado e as pessoas dirigem na esquerda. Só que tem um problema. Como os carros são americanos, você passa a viagem inteira achando que as pessoas estão trafegando na contramão. Dá a sensação de viver numa distopia automotiva.  De qualquer forma, isso não te impede nem de trafegar pela ilha nem de ir até lá (exceto se você tiver um tipo específico de fobia automotiva).
Se você estiver com um mapa na parede, é fácil achá-las. Elas estão a leste de Porto Rico e no centro dos desejos de alguns bilionários da tecnologia.
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Google ilha
O arquipélago tem 60 ilhas. Apenas uma dezena delas é habitada pelos moradores fixos. O resto é protegido por parques naturais ou está nas mãos de algumas das pessoas mais ricas do planeta. Larry Page, um dos pais do Google, e sir Richard Branson, do grupo Virgin (que inclui operadora de telefonia, empresa aérea e mais alguns negócios), estão entre os felizes proprietários de ilhas por ali. A beleza natural e as facilidades fiscais transformaram as Ilhas Virgens Britânicas num “segredo da natureza escondido”, como seus moradores gostam de dizer.
Porém, dá para ser de classe média (alta) e ir para lá. Alguns resorts têm preço semelhantes ao de outros em que brasileiros passam férias. O nó é chegar lá. Numa época em que você pode escutar português brasileiro em qualquer canto do globo, apenas mil pessoas com passaporte verde e amarelo estiveram naquele pedaço do Caribe em 2012 – o último ano para o qual há contagem. A baldeação aérea e marítima pode desanimar um pouco. Mas não devia.
Dá vontade de beber a água do mar, de tão cristalina (e especialmente se você veio da seca de São Paulo). Os cardápios dos restaurantes são feitos para você sentir que todo dinheiro gasto vale a pena. Dava para fazer desjejum com lagosta, por exemplo, e depois ir  para a piscina infinita, construída para dar a impressão de que a água dela se confunde com a água do mar.
"Se essa ilha, se essa ilha fosse minha/eu colocava, eu colocava mais wi-fi (MENTIRA)"
“Se essa ilha, se essa ilha fosse minha/eu colocava, eu colocava mais wi-fi (MENTIRA)”
Vale a pena?
Antes de virar esse pedacinho charmoso do mundo, as ilhas foram um paraíso de piratas. O litoral cheio de becos (você pode chamar de baias) era perfeito para esconderijos. Isso acabou rendendo mais do que os supostos tesouros escondidos nas ilhas: naufrágios preservados. Por ser uma rota marítima poderosa, as ilhas têm restos de navios incrivelmente conservados. Talvez marujos tenham o corpo fechado — e fechem o corpo dos seus navios também. Vai saber.
Talvez por essa inspiração pirata, a privacidade é levada bem a sério por lá. Ok, pode não ser maneirismo pirata, mas apenas um princípio do mundo do luxo. Enfim. O fato é que um dos hotéis em que me hospedei se espalha por uma ilha inteira. Ele toma todo o território de Peter Island. Neste resort há até uma pequena praia particular chamada Honeymoon Beach, literalmente a praia da lua-de-mel. Ela é reservada apenas a casais descobrindo seus corpos logo depois de casados, já que essa ilha é um destino bem procurado para o pós-núpcias. Tem de reservar, mas é tranquilo.  E eles limpam depois. Privacidade não é apenas desistir do Facebook.
Fora da ilha dos amores, ainda nesse resort, recebi uma massagem que me fez descobrir, e logo depois esquecer, todos os nós musculares acumulados nas minhas costas desde o meu nascimento. Aliás, todo mundo deveria receber uma massagem dessas ao menos uma vez na vida.
E quanto custa tudo isso? Depende. Os preços vão de 1 mil a 20 mil dólares por dia. Em alguns, mais populares (embora o conceito de popular aqui seja discutível, já que segue o alto padrão da ilha), você pode conseguir algo em torno de 200 dólares por dia. Eu vi famílias de classe média americana no Bitter End Yacht Club, por exemplo.
Tentando aprender a velejar. Cara, como eu sou ruim nisso
Tentando aprender a velejar. Cara, como eu sou ruim nisso
Outra coisa deliciosa que fiz por lá foi andar de barco. Eu fiquei duas noites no Rocketeer, um catamarã comandado por uma brasileira e por um americano. Eles alugam o barco por 10 mil dólares por sete dias, com tudo incluído, da paella ao champagne. O barco abriga até oito pessoas (dá para fazer uma viagem de amigos, por exemplo) e é maravilhoso cortar as águas do Caribe deitado numa rede.
Eu só fiz tudo isso porque fui convidado, como jornalista, para conhecer as ilhas. Mas fiquei aqui pensando que, se eu tivesse guardado aquele dinheiro, naquele dia, por algum tempo, eu poderia ir para lá por minha conta. Se um dia isso acontecer, espero que o tratamento seja igual ao que recebi quando fui a trabalho. Pelas resenhas que andei lendo depois da viagem, o problema, na real, é o contrário: como hóspede, o nível de mimo pode chegar a níveis estratosféricos.
Então se você tem um dinheiro sobrando (ou pretende juntar dinheiro para fazer uma viagem espetacular), uma opção é ir para as Ilhas Virgens Britânicas e depois me contar como é ser bem tratado por lá. Boa viagem!
fonte - http://gizmodo.uol.com.br/canais/fui/a-ilha-do-dono-do-google/

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