domingo, 1 de março de 2015

The Economist diz que culpado de o Brasil estar no atoleiro é o governo da presidente Dilma Rousseff


Mais influente revista do mundo põe o Brasil na capa, garante que o governo petista está paralisando a economia do país e frisa que o ministro Joaquim Levy é um sopro de esperança
Revista “The Economist” diz que a boa notícia é que a situação do Brasil de Dilma Rousseff é um pouco melhor do que a da Rússia de Vladimir Putin
Revista “The Economist” diz que a boa notícia é que a situação do Brasil de Dilma Rousseff é um pouco melhor do que a da Rússia de Vladimir Putin
“The Economist” tem publicado uma série de re­portagens sobre o Brasil, porque avalia que a sétima economia do mundo merece ser mais bem compreendida. A circulação da revista britânica é menor do que a da “Veja”, mas sua influência, até por ser escrita em inglês (publicações brasileiras certamente terão de publicar brevemente pelo menos parte de seu material jornalístico no esperanto que deu certo, o inglês), se estende por vários países, sobretudo entre políticos, empresários, jornalistas e intelectuais. Antes, no tempo da hegemonia dos jornais diários — pré-internet —, dizia-se: “Deu no ‘New York Times’”. Agora, chique, up to date, é dizer: “Deu na ‘Economist’”. As análises e reportagens da publicação inglesa são, no geral, de alta qualidade — tanto que muitos de seus textos são reunidos e publicados em li­vros. Governos patropis, notadamente os do PT, não apreciam suas críticas e ironias. Porém, apesar de algumas derrapagens, quem sabe derivadas de certo anglicanismo esnobre, há análises que são procedentes. Provincianismo, ou caipirice, é concordar com tudo que publica ou discordar das análises exclusivamente porque não foram feitas por brasileiros.
Na edição para a América Latina, que está chegando às bancas, “Eco­no­mist” publica um título direto, “O atoleiro do Brasil”, e ilustra com uma passista carnavalesca sendo “absorvida” por um pântano ou atoleiro. A imagem é forte e resume aquilo que a revista resume numa palavra: “bagunça”. O país, notadamente no governo da presidente Dilma Rousseff, está mesmo caótico. Não há como discordar que há certo descalabro.
Se Dilma Rousseff está no atoleiro — “Economist” foi gentil ao trocá-la por uma passista de escola de samba —, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, apontado como liberal sem enganação, não está e pode ser a salvação da lavoura. “Escapar desse atoleiro seria difícil mesmo para uma grande liderança política. Dilma, no entanto, é fraca. Ela ganhou a eleição por pequena margem e sua base política está se desintegrando”, afirma a revista. Na semana passada, o PMDB, e até com o apoio do petista Lula da Silva (que já está criticando a petista-chefe), parece ter enquadrado de vez a presidente e seu governo. Percebendo a fragilidade de Dilma Rousseff, as raposas peemedebistas querem mandar tanto no governo quanto na própria presidente. Noutras palavras, o governo, para continuar sendo petista, tem de ganhar feições peemedebistas — o que equivale a dizer o “rosto” de Michel Temer, vi­ce-presidente que planeja adquirir status de primeiro-ministro, Renan Ca­lheiros, presidente do Senado, e Eduar­do Cunha, presidente da Câmara dos Deputados. Os três partilham uma espécie de governo paralelo. Dilma Rousseff ensaiou uma ponte com outros partidos, como o PSD, mas descobriu que, sem o PMDB, além de não gerir a máquina, os caciques Michel Temer, Renan Calhei­ros e Eduardo Cunha podem engessá-la. Por exemplo: só tem impeachment com o PMDB e só não tem impeachment com o PMDB. É possível sugerir que a presidente é refém da crise, atoleiro do qual não consegue escapar, e do peemedebismo.
No editorial, a “Economist”, após sublinhar que o Brasil é a “antiga estrela da América Latina” — na verdade, continua como a principal, até por não ter concorrentes sólidos e do mesmo porte (o PIB do sólido Chile não chega à metade do de São Paulo) —, sublinha que o país vive a sua pior fase, desde o começo da década de 1990 — quando Fernando Collor sofreu impeachment e Itamar Franco ascendeu à Presidência da República e levou para assessorá-lo Fernando Henrique Cardoso, como ministro das Relações Exteriores e, depois, da Fazenda, o que acabou produzindo o Plano Real, que estabilizou a economia e controlou a inflação. “A economia do Brasil está uma bagunça, com problemas muito maiores do que o governo admite ou investidores parecem perceber”, anota a revista.
“Economist” frisa que, no mo­men­to, é baixo o índice de investimento, o escândalo da Petrobrás está minando a credibilidade do go­verno e, até, do país, além de contribuir para paralisar ainda mais a economia. A desvalorização cambial está provocando o aumento da dívida externa em real dos empreendedores do país. O Brasil está num processo de recessão e a inflação está “voltando” com energia.
Durante a campanha, expõe “Eco­nomist”, Dilma Rousseff “pintou um quadro cor-de-rosa” sobre a economia local. “Apenas dois meses do novo mandato e os brasileiros estão percebendo que foi vendida uma falsa promessa”, assinala a revista. A publicação afirma que, apesar de ter traído a confiança dos brasileiros, ao “mentir” sobre a situação real da economia, agora o governo, ancorado nas ideias de contenção fiscal do ministro Joaquim Levy, está começando a fazer as coisas certas. Reorganizar as contas do Estado, eliminando gorduras excessivas e impedindo que o governo faça política partidária com dinheiro público, da sociedade, é fundamental. A tese de Joa­quim Levy de que um Estado mais enxuto será capaz de investir mais em infraestrutura, portanto apresentando-se como um indutor real do crescimento da economia, é apoiada pelos ingleses. E, claro, pelos brasileiros.
A presidente Dilma Rousseff costuma dizer que os problemas do Brasil decorrem da desaceleração da economia internacional — a China, por exemplo, teria reduzido a aquisição de commodities. Entretanto, “Econo­mist”, discordando deste diagnóstico, su­­gere que a maioria dos problemas tem cor local. A estratégia de apostar no “capitalismo de Estado” — com sua política de forjar “campeões”, como Ei­­ke Batista, do falido Grupo X, e os ir­­mãos Wesley e Joesley Batista, da JBS-Friboi — não funcionou. Às ve­zes, no lugar de endividar os empresários, os chamados campeões, endividou o Estado, que pôs dinheiro público em empresas que, em alguns casos, como os frigoríficos, faliram e não te­rão como devolver dinheiro à sociedade.
O capitalismo de Estado, na opinião de “Economist”, afetou a política industrial e reduziu a competitividade das empresas brasileiras. As contas públicas, por seu turno, foram drasticamente contaminadas. O ministro Joaquim Levy disse que, em sua luta contra o patrimonialismo, vai “segurar” os financiamentos do BNDES, que parece ou parecia fora de controle. Embora seja bem intencionado, Joaquim Levy não é mágico. “O fracasso do Brasil em lidar rapidamente com distorções macroeconômicas deixou o sr. Levy numa armadilha, a da recessão”, critica a revista. Teme-se, sobretudo, uma recessão prolongada. Segundo a revista, o investimento no Brasil está 8% menor do que no ano anterior. A tendência é que continue caindo.
Para retomar o que chama de caminho do “crescimento sustentado”, o governo de Dilma Rousseff precisa rever as leis trabalhistas, que, segundo “Economist”, são “arcaicas”. Até podem ser, mas sua modernização terá pela frente a reação dos sindicados e grupos corporativistas, que têm força dentro do PT. Ante a possibilidade de o próprio partido da presidente opor-se às mudanças na legislação trabalhista, para evitar a flexibilização das relações entre trabalhadores e patronato, “Eco­nomist” sugere que pelo menos é preciso “simplificar” os impostos, além de reduzir a burocracia pública. A revista acredita, como o economista Edmar Bacha, que o Brasil pode se abrir um pouco mais ao comércio exterior.
A boa notícia, aponta a “Eco­no­mist”, é que a situação do Brasil é um tanto quanto melhor do que a da Rús­sia, outro país do Brics. “Mesmo com todos os seus problemas, o Brasil não es­tá em uma confusão como a Rússia. O Brasil tem um grande e diversificado se­tor privado e instituições democráticas robustas. Mas seus problemas po­dem ir mais fundo do que muitos imaginam. O tempo para reagir é agora.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário