quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Nove povoados fantasma


Entre o mistério e a curiosidade do viajante, lugares que impõem respeito, da Austrália a Saragoça

 3 SEP 2014 - 19:00 BRT
  •                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    
    Um hotel remoto em Silverton (Austrália), antiga comunidade mineira abandonada que conta agora com uma pequena população e estúdios de artistas. / DAVID TROOD
    Há certos lugares pelos quais bem poucos se atrevem a passar. Minas abandonadas, povoados sepultados por vulcões, cidades que em outro momento conheceram tempos de glória. Entre os mistérios e a curiosidade do viajante, nove cenários que nos fazem refletir sobre o passado, e que impõem sempre certo respeito...

    01 Viagem à catástrofe de Chernobil

    PRIPYAT (UCRÂNIA)

    Atrações abandonadas na zona de exclusão de Chernobil (Ucrânia). /ALEXEY NIKOLAEV
    Há um tipo de turismo que desafia o convencional. A prova são as viagens a lugares como Chernobil. Uma roda-gigante melancólica sobre uma cidade abandonada. Carrinhos de supermercado cheios de mato. Casas com goteiras e escombros. Automóveis oxidados e trens abandonados ao relento; sim, é a zona de exclusão que rodeia o enclave do grande desastre nuclear soviético. Pripyat, uma cidade da atual Ucrânia, antes espetacular, com bulevares amplos e esquinas simétricas, construída para acolher os trabalhadores da central de Chernobil, era habitada por 50.000 pessoas. Foi esvaziada em dois dias depois que um reator da central explodiu em 1986 e provocou uma chuva radioativa nas áreas ao redor. Quem se animar pode contratar um tour para duas pessoas por Chernobil e Pripyat a partir de 190 euros (560 reais).

    02 Avenidas e bibliotecas para os ursos

    PYRAMIDEN (SVALBARD, NORUEGA)

    Vista de Pyramiden, assentamento mineiro soviético abandonado nas ilhas Svalbard (Noruega). / TOMAS ZRNA
    No que diz respeito a povoados fantasmas, é difícil superar um por cujas ruas vazias perambulam ursos polares e renas, e que tem o piano de cauda mais setentrional do mundo. Pyramiden, nas ilhas Svalbard, foi vendida pela Suécia a uma comunidade mineira russa em 1927 e se transformou em um típico assentamento soviético. Nos anos cinquenta viviam ali uns 2.500 russos, havia empresas, um hotel e até a piscina mais ao norte do mundo. Quando o carvão começou a escassear na década de noventa, a empresa abandonou o lugar rapidamente, tanto que ficaram para trás até livros nas estantes e gangorras nos parques. Por causa do frio extremo, essa localidade congelada no tempo continuará assim por muitos anos. É curioso ver seus edifícios de arquitetura soviética dos anos setenta, como o palácio de esportes e o antigo hotel, onde se vendem alguns objetos curiosos da fase soviética. A Pyramiden se chega de barco: é necessário um guia armado para espantar os ursos polares. É um bom dia de viagem desde Longyearbyen.

    03 Uma Pompeia no Caribe

    PLYMOUTH (PEQUENAS ANTILHAS)

    O antigo tribunal de Plymouth, na ilha de Montserrat (Antilhas), enterrado pela cinza depois das erupções do vulcão Soufrière Hills. / RICHARD ROSCOE
    Há muitos anos, a ilha de Montserrat era um porto caribenho de cartão postal: águas claras, praias douradas e um ambiente relaxante que atraía como um ímã viajantes de todo o planeta. Mas no verão de 1995 o vulcão adormecido das colinas de Soufrière despertou e arrasou o setor turístico em uma enorme investida. Plymouth, a capital, desapareceu sob um mar de cinzas e se transformou em uma cidade fantasma. Hoje a ilha oferece bons mergulhos e navegação de primeira, além de passeios por essa Pompeia moderna. Antes da visita é importante consultar o nível de alerta vulcânico na página do Montserrat Volcano Observatory.

    04 Uma mina de cinema

    SILVERTON (AUSTRÁLIA)

    Carro usado na rodagem de 'Mad Max 2', no povoado de Silvertone. (Austrália). /WARWICK KENT
    Na década de 1880, Silverton era uma pequena comunidade dedicada à mineração da prata, com uma equipe de futebol, jornal local e clube hípico, mas a abertura de novas explorações na vizinha Broken Hill acabou com tudo. Muitos se foram levando o que puderam (inclusive casas). Hoje resta uma parte da cidade original, incluindo alguns edifícios importantes, como o hotel e a prisão. Cercada por terra vermelha e agreste, é um sonho para quem busca cenários, e apareceu em muitos filmes como Mad Max 2 e As Aventuras de Priscilla, a Rainha do Deserto. É fácil sentir aqui todo o charme da roça. Além disso, recuperou um pouco de vida graças aos licores e à cerveja do pub, e também a uma pequena comunidade de artistas que mantém seus estúdios aqui. Mais além de Silverton não há praticamente nada, mas vale a pena percorrer cinco quilômetros até o mirante de Mundi Mundi, com vista tão extensa da planície homônima que se chega a ver a curvatura da Terra. Na realidade, Silverton não é tão fantasma, pois tem uma pequena população que administra o setor de turismo.

    05 Quando os alicerces falham

    CRACO (ITÁLIA)

    A cidade medieval de Craco, no sul de Itália, foi abandonada depois de um forte terremoto em meados do século XX. / CORBIS
    Não construas uma casa sobre a argila, esse é o ensinamento moral de Craco, uma cidade medieval de montanha, abandonada, no sul da Itália. Manteve-se de pé durante vários séculos até que os terremotos a sacudissem. Sua população já tinha minguado com a guerra e as migrações, mas em meados do século XX os sismos agravaram os problemas de seus alicerces em terreno argiloso; um muro de contenção construído com urgência reteve, sobretudo, a água, o que umedeceu mais o terreno e provocou deslizamentos de terra que acabaram por desfigurar definitivamente o conjunto. Os habitantes se mudaram para o vale e Craco ficou como sentinela, triste e em ruínas. Para chegar a Craco é preciso passar por Maera, uma localidade famosa por suas casas escavadas, como cavernas (sassi), que recordam um passado muito duro – quase miserável – e bem recente, que ficou registrado no livro Cristo Parou em Eboli, de Carlo Levi. Hoje os sassi são patrimônio mundial da Unesco e se transformaram em atração turística. Craco fica ao sul de Basilicata e aparece em A Paixão de Cristo, de Mel Gibson.

    06 Ecos de guerra

    BELCHITE (SARAGOÇA)

    Ruínas do velho povoado de Belchite, na província de Saragoça. / JOSÉ FUSTE
    Este povoado de Saragoça ficou destruído pela famosa batalha que leva seu nome, em 1937. Ao lado se ergueu um novo povoado, mas deixaram os restos do antigo como recordação da Guerra Civil Espanhola. O município arrasado, com suas paredes em ruínas cheias de buracos de bala, é dominado pela estrutura vazia de sua igreja. É possível visitar o interior, uma simples carcaça, mas muitas partes estão fechadas aos visitantes por serem pouco seguras. Passear por esse lugar convertido em mera armadura serve de recordação comovedora de como essa guerra destruiu muitas vidas. Os amigos dos mistérios dizem que entre suas pedras ainda se pode escutar os ecos da batalha. A antigo Belchite requer um passeio de 20 minutos a pé desde o novo povoado, acessível de ônibus desde Saragoça.

    07 Na tumba de Shackleton

    GRYTVIKEN (ANTÁRTIDA)
    Antiga estação baleeira de Grytviken, nas ilhas Geórgias do Sul. / KONRAD WOTHE
    As ilhas Geórgias do Sul estão no meio das tempestuosas águas do Atlântico sul, próximas da Antártida. Não parecem ser um bom lugar para viver, mas acolheram várias ondas de ocupantes. Os primeiros caçadores de focas, no século XIX, o fizeram até não aguentarem mais. No começo do século XX, uma comunidade baleeira se estabeleceu em Grytviken e acabou com os ovos de ouro: caçaram baleias até quase extingui-las e a estação foi abandonada na década de 1960. É possível visitar os restos oxidados do povoado e a tumba do grande explorador Ernest Shackleton, de barco. Perto da antiga estação baleeira há um pequeno museu, administrado pelo Reino Unido. Nada mal para uma pequena conversa e para entender muitas coisas do lugar.

    08 Da prata ao peiote

    REAL DE CATORCE (MÉXICO)
    Igreja da Virgem de Guadalupe, em Real de Catorce (México). / DANNY LEHMAN
    Real de Catorce, nome mais sensato que o original (Real de Minas de Nuestra Señora de la Limpia Concepción de Guadalupe de los Ángeles de Catorce), é uma cidade quase fantasma com uma localização impressionante, na base da Serra Madre Oriental mexicana. Foi uma comunidade rica graças às jazidas de prata até princípios do século XX. Há pouco ainda estava quase deserta, com as ruas cheias de edifícios em ruínas, mas na década de 70 ficou famosa pelo peiote (cacto alucinógeno), sendo visitada por peregrinos lisérgicos. Agora o lugarejo cresce de novo, portanto é preciso ser rápido para poder desfrutar da essência fantasmagórica de suas ruínas, edifícios abandonados e portas empurradas pela brisa. O Mesón de la Abundancia oferece comida e cama em um edifício restaurado do século XIX, um tesouro local.

    09 Até que o cobre acabou

    SEWELL (CHILE)
    Edifícios de cor pastel na cidade mineira de Sewell, construída junto às jazidas de cobre de El Teniente, nos Andes chilenos. / PABLO BANCO
    Dá vontade de se mudar para a belacidade das estrelas dos Andes chilenos, Sewell, com ruas vertiginosas, edifícios de cor pastel e uma escola art déco. Foi construída em 1905 para os trabalhadores da mina de cobre de El Teniente e se chama assim por causa do nome de batismo de um executivo da empresa de mineração norte-americana que a explorava. Quando a febre mineradora acabou, a empresa começou a direcionar a população no vale e no fim de 1970 já não havia vida em Sewell, patrimônio mundial desde 2006. Chega-se a Sewell por Rancagua, no Vale de Colchagua, cujas adegas são a grande atração turística da região vinícola, a maior e mais consolidada do país. Rancagua pode ser alcançada em uma cômoda excursão de um dia a partir de Santiago do Chile, de trem ou ônibus. É fácil organizar um circuito em Sewell consultando sua página oficial na internet.
    Mais informação no guia Lonely Planet – 1000 lugares únicos e emwww.lonelyplanet.com

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