Meu plano era infalível; era só dizer por aí que o Vera Cruz era o colégio mais bacana/disputado da cidade. Não era verdade, claro, ele não estava nem no top 5 do bairro. Tinha o São Luis, o Damas, até o CPI, que ninguém nunca tinha ouvido falar na vida e nem quadra descoberta tinha, estava com mais moral que o Vera Cruz. Mas bastava um boato, um marketing bem feito e, com sorte, as pessoas e professores bacanas de outras escolas iriam querer ir para o Vera. Era mais fácil trazer o mundo para o meu colégio do que sair por aí a procura de outro mais descolado.
Se meu plano não deu certo, foi por pura falta de adesão dos meus compatriotas. Para que a notícia virasse domínio público e o Recife acreditasse que o Vera Cruz era foda, era preciso, antes, que os alunos acreditassem. Teríamos que participar da abertura dos jogos olímpicos sem achar mico, marchar no 7 de setembro pela Rui Barbosa vestindo com orgulho a farda azul com escudo vermelho, parar de falar mal dos sapatos ortopédicos das freiras e, principalmente, não fugir mais na hora do recreio para ir paquerar no São Luis. Parte da minha estratégia de marketing corporativo era divulgar que os jambos roubados no quintal das freiras era muito melhor que os do cemitério.
Mas o que os alunos fizeram? Saíram de fininho numa diáspora educacional. Foram atrás de salas climatizadas, dos índice de aprovação no vestibular, de quadras poliesportivas e paquerinhas mais abonados. Eu fiquei lá, com alguns amigos bons. Sobrou espaço e diminuiu a fila da cantina. Os que ficaram, não só passaram no vestibular, como se tornaram grandes amigos. E sim, o colégio era massa.
Então, sempre que leio a frase entre aspas de Eduardo Campos; “Não vamos desistir do Brasil”, imagino que não era comigo que o presidenciável estava falando. Porque, se eu não desisti do Vera Cruz, imagina do meu país. Quem acha que o Brasil não tem jeito, deve ser o mesmo alguém que faltou o jogo da basquete da sétima A contra a sétima B, fazendo a turma inteira perder de W.O!
Não adianta o presidente acreditar (seja ele/ela quem for) se os brasileiros continuarem achando que nada vai mudar.
Meu plano agora? Boatar por aí que Recife é a melhor cidade em linha reta do continente americano. Quer ir comer hambúrguer com picles? Problema seu. Eu fico aqui com meu bolo de rolo mesmo.
Téta Barbosa é jornalista e publicitária
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