O Banco Central tem um importante instrumento para combater a inflação, e sem a ajuda do governo federal no controle dos gastos públicos tal instrumento impõe um custo elevado à economia. Mas daí a inocentar o BC de culpa no cartório e culpar apenas os gastos públicos vai uma longa distância. Foi o que explicou de forma sucinta o economista Silvio Figer em artigo publicado hoje no GLOBO. Diz ele:
Além disso, quem disse que descontrole fiscal gera inflação? O déficit público é financiado pela emissão de dívida pública pelo Tesouro, que, ao colocar esta dívida no mercado, recebe reais dos investidores, e entrega os títulos. O meio circulante não se altera em um centavo sequer — onde está o efeito inflacionário? Nem poderia ser de outra maneira, posto que o Tesouro não emite moeda, que é função atribuída pelo governo, em caráter de monopólio, ao BC.
A inflação ocorre a partir do momento em que o BC compra (monetiza) esta dívida dos investidores. Aí o processo se inverte, com o BC recebendo os títulos e entregando reais — que ele emite. Está colocado em marcha um processo inflacionário, de exclusiva criação do BC.
[...]
Portanto, discursar sobre a culpa dos outros, sem jamais assumir a sua exclusiva responsabilidade, oculta o fundamental: o BC viabiliza a irresponsabilidade fiscal. Se não concorda, tem a obrigação de mudar o discurso, e denunciar à sociedade a irresponsabilidade de se emitir moeda lastreada em dívida pública, que é a expressão do descontrole fiscal. O BC, longe de ser a vítima, é o próprio agente da inflação.
Para quem acompanha este blog isso não será novidade. Tenho acusado aqui a conivência do BC desde sempre, e cheguei a explicar o processo inflacionário de forma bem minuciosa. Por isso mesmo que os países desenvolvidos garantem independência legal ao banco central, para não ser politizado e usado pelo governo federal como braço monetário para seus programas populistas.
Como diz Figer, sem esse instrumento haveria “a morte de programas demagógicos como o Minha Casa Minha Vida, cartões BNDES e financiamentos imobiliários em 30 anos, com uma moeda cujo futuro não se enxerga além dos próximos seis meses!”
Não é à toa que todo populista clama pelo controle da emissão de moeda: cria recursos do nada para bancar seu populismo, adotando o imposto mais nefasto de todos, o inflacionário, pois disfarçado. Mas quem se dá mal mesmo nessa história é justamente o mais pobre, que não consegue se defender da inflação, criada pelo próprio Banco Central…
Rodrigo Constantino
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