De um amigo real, recebi um e-mail com um vídeo onde o personagem central dizia possuir 422 amigos com quem se comunicava diariamente, mas que era solitário e que destes, nenhum o conhecia realmente.
Apesar da presença física de seu parceiro sentado na mesma mesa, de estarem diante um do outro, o que se vê atualmente entre amigos, namorados ou casais, são pessoas que não se falam, mas através de seus smartphones, se comunicam com outros que muitas vezes estão a milhares de quilômetros de distância.
Na realidade, essas "redes sociais", de "social" nada possuem, pois provocam um afastamento real das pessoas que estão próximas. O mesmo ocorre com os jogos eletrônicos atualmente existentes nos atuais aparelhos celulares ou tablets.
As crianças passam o dia manuseando jogos eletrônicos e o que menos fazem é falar com seus amigos, pais ou irmãos. Elas não sabem o que é brincar de esconde-esconde, amarelinha, pega-pega, carrinhos de rolimã, soltar papagaio, jogar bolinha de gude e tantas outras brincadeiras das gerações anteriores.
Essas sim eram brincadeiras "sociais", pois faziam a integração entre as crianças e, ao mesmo tempo, despertavam seu interesse para a disputa e o uso da imaginação, que futuramente seriam utilizadas diariamente em diversos setores de suas vidas, além de ainda as exercitarem fisicamente.
Os jovens atuais "namoram" através de mensagens eletrônicas, pelos Messenger, Whatsapp ou Skype existentes, enquanto os das gerações passadas sentiam os corações acelerarem quando se aproximavam ou viam passar a pessoa por quem se interessavam.
As paqueras e namoros eram iniciados com os olhos nos olhos, depois vinham os primeiros toques, delicados, de uma mão na outra, para só então ocorrer o primeiro beijo. Atualmente ocorrem algumas trocas de mensagens eletrônicas, no primeiro encontro já "ficam" e no dia seguinte cada um já "está em outra".
As pessoas estão com limitações cada vez maiores de seus espaços físicos e se comunicando apenas com nomes nos monitores, sem tomar conhecimento do que ocorre no campo físico, à sua volta. Ninguém mais conhece o seu vizinho, ainda que resida no mesmo andar do prédio, na porta da frente, e poucos são os que sabem o nome do zelador de seu prédio.
Dentro da própria casa, os pais que saíram cedo para trabalhar só retornam à noite, nada sabem sobre as ocorrências diárias de seus filhos que ficaram aos cuidados de uma pessoa que certamente teve uma educação totalmente distinta do que pretendem dar a seus filhos, mas que, na prática, é quem realmente os educaria se impusesse horários para estudo, limites no uso de aparelhos eletrônicos e exigisse que se alimentassem corretamente, o que certamente não ocorre.
Alguns anos depois estes pais encaminham seus filhos a psicólogos, nutricionistas e fazem terapia de casal, tentando entender como seu relacionamento com eles parece com o de dois estranhos, porque se alimentam tão mal, estudam muito pouco e passam o dia alienados do mundo real, dedicando seu tempo quase que exclusivamente aos jogos e comunicações virtuais.
Talvez para compensar sua ausência física, esses pais, quando presentes, também não impõem limites, regras, horários ou exigem uma alimentação saudável de seus filhos. Crianças ainda muito pequenas não se exercitam, estudam quando querem, só se alimentam de comidas industrializadas, frituras, refrigerantes e assim, logo estão obesas, com problemas de saúde e até com diabetes.
Ao ligarmos nossos computadores, abrimos as portas do mundo virtual para a diversão, o conhecimento e a pesquisa, mas nos distanciamos do real.
João Bosco Leal*
*Jornalista, escritor e empresário
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