quarta-feira, 30 de abril de 2014

Receita revela caminho do dinheiro da Petrobras até Youssef


  • Empreiteira contratada pela estatal pagou R$ 26 milhões para empresa fictícia do doleiro
  • Pagamentos entre 2009 e 2013 teriam sido feitos em operações triangulares outras duas empresas

O doleiro Alberto Youssef
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
O doleiro Alberto Youssef Geraldo Magela/Agência Senado
BRASÍLIA - Relatório da Receita Federal mostra como parte do dinheiro que saiu da Petrobras para pagamento ao Consórcio Nacional Camargo Correa para a construção da refinaria Abreu e Lima caiu em uma das contas da MO Consultoria, uma das empresas do doleiro Alberto Youssef. O documento aponta que o consórcio liderado pela Camargo Correa, uma das sete maiores empreiteiras do país, pagou R$ 26 milhões para a MO entre 2009 e 2013. Os pagamentos teriam sido feitos em operações triangulares com a Sanko Sider e a Sanko Serviços. Segundo a polícia, a MO é uma empresa fictícia e teria sido criada apenas para lavagem de dinheiro.
O relatório com o fluxograma do dinheiro serviu de base a uma das denúncias do Ministério Público Federal contra o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, contra Youssef e mais oito supostos cúmplices dos dois. Na semana passada, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba acolheu a denúncia e abriu processo contra os acusados. Na segunda etapa da investigação, a Polícia Federal deverá concentrar a apuração sobre a Camargo e outras empresas que fizeram repasses a MO.

De 2009 a 2013, a Camargo Correa e outras empresas vinculadas a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco repassaram R$ 90 milhões a MO de Youssef, conforme mostrou o GLOBO na edição de ontem. Pelo laudo da polícia, em 2009, a Petrobras pagou R$ 1.029 bilhão ao consórcio da Camargo Correa encarregada da execução de parte das obras da Abreu e Lima. A partir daí, a Camargo transferiu R$ 3,6 milhões para a Sanko Sider Com. Imp Exportação. Na sequência a Sanko repassou R$ 3,1 milhões para a MO.
Em 2010, a Petrobras repassou mais R$ 919 milhões para o consórcio da Camargo. O consórcio transferiu, então, R$ 8 milhões para Sanko Sides, que transferiu R$ 2,5 milhões para a MO. A Sanko Sider transferiu ainda mais R$ 935 mil para a empreiteira Rigidez e R$ 1,7 milhão para a Muranno Brasil Marketing, estas duas últimas empresas também suspeitas de serem ligadas a Youssef. Na continuidade dos repasses em em operações triangulares, a Petrobras pagou R$ 513 milhões a Camargo, que repassou R$ 16,3 milhões para a Sanko Sider e R$ 11,5 milhões para Sanko Serviços. Deste total, R$ 18,1 caíram na conta da MO.
Em 2012, a Petrobras desembolsou R$ 472 milhões. A Camargo repassou R$ 28,7 milhões para a Sanko Sider e R$ 2,9 milhões para a Sanko Serviços. A partir daí o dinheiro foi repartido : R$ R$ 5,1 milhões foram para a MO, R$ 1,6 milhão para a empreiteira Rigidez e R$ 3,27 milhões para a Muranno Brasil Marketing. Auditores do Tribunal de Contas da União identificaram superfaturamento de mais de R$ 650 milhões nas obras do consórcio. Os dados do TCU também estão sendo usados como base para acusação contra Youssef, Costa e outros suspeitos de envolvimento com desvios de dinheiro da Petrobras. Em resposta ao jornal, a Camargo nega que tenha repassado dinheiro à s empresas de Youssef.
Em resposta ao GLOBO, a Camargo e Correa afirmou que “o consórcio CNCC não pode se responsabilizar por repasses feitos por terceiros a quem quer que seja. Jamais fez negócios ou repasses às empresas ou pessoas citadas. Apenas efetuou pagamentos à Sanko Sider por tubos comprados de acordo com contratos e necessidades da obra e a Sanko Sider é uma empresa certificada pela Petrobras”, disse.
A diretoria da Sanko Sider nega tenha intermediado repasses de dinheiro da Camargo Correa para a MO ou que tenha cometido qualquer irregularidade nas transações financeiras com as duas empresas. Segundo a assessoria de imprensa da empresa, a Sanko contratou a MO para prestar consultoria e vendeu tubos e conexões para a Camargo Correa. A Sanko não diz, no entanto, qual seria o assunto da consultoria e nem quem seria o autor do suposto estudo de R$ 26 milhões.
"Os serviços foram contratados, pagos contra a emissão de notas fiscais, que foram todas devidamente contabilizadas, tributadas e pagas, via sistema bancário, de acordo com a legislação vigente. Todas essas informações foram prontamente prestadas às autoridades há tempos, tão logo se iniciaram as averiguações", diz a assessoria. Márcio Bonilho, um dos diretores da Sanko, deve prestar depoimento a PF em maio

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