quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Quanto antes, melhor - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 12/12

O Banco Central gostaria de que a operação monetária global mais temida começasse o quanto antes.

Foi o que afirmou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em depoimento na terça-feira na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Ele se referiu ao programado desmonte da megaoperação de emissões de dólares do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos). Nada menos que US$ 85 bilhões são injetados todos os meses pelo Fed no mercado por meio da recompra de títulos, política denominada afrouxamento quantitativo (quantitative easing). E é esse movimento que agora deve ser lentamente revertido.

Duas são as questões levantadas pela declaração de Tombini: quais são as principais consequências de um eventual apressamento da operação de desmonte, que os americanos vêm chamando de tapering (afunilamento)? E por que o Banco Central do Brasil está interessado na rápida reversão desse jogo?

Para respostas adequadas a essas perguntas é preciso antes entender quais são os riscos que podem ser provocados por essa injeção gigantesca de dólares nos mercados. O primeiro é o de que as fortes emissões de moeda produzam hiperinflação. Outro risco é o de que, mal habituados à abundância de recursos, os mercados percam racionalidade. Um terceiro risco é que o excesso de dólares e a relativa escassez de ativos nos mercados encareçam demais os títulos do Tesouro dos Estados Unidos (e reduzam seu rendimento) e criem problemas para a administração das contas públicas e da dívida. E há ainda o risco de que, mal acostumadas ao excesso de moeda, as empresas norte-americanas reduzam suas aplicações mais ousadas.

Esse conjunto de riscos parece suficiente para criar relativa urgência na reversão da política de grandes emissões. Mas, se não for gradual e cuidadosa, essa reversão poderia provocar novos perigos. Um deles é o de que a relativa escassez de moeda provoque uma excessiva valorização do dólar em relação às demais moedas, o que ficou mais ou menos claro a partir de maio, quando o Fed anunciou que estudava o novo passo.

Além disso, a forte valorização do dólar poderá provocar deflação (queda constante dos preços) nos Estados Unidos, uma vez que tenderia a reduzir em dólares as cotações das commodities e os preços dos produtos importados pela economia americana. A deflação seria ruim na medida em que reduziria a arrecadação e, assim, alargaria os problemas fiscais dos Estados Unidos.

Do ponto de vista do Banco Central, quanto antes essa reversão comece, melhor: removeria forte elemento de incerteza e daria certo horizonte à condução da sua política cambial, sobretudo na oferta de proteção (hedge) para quem opera em reais (que deverão se desvalorizar) e tem compromissos em dólares. E, ainda, porque as desvalorizações relativas das outras moedas, desde que ocorram de forma ordenada, poderiam aumentar as importações de produtos brasileiros na Europa e na Ásia.

Na próxima quarta-feira, o Comitê de Política Monetária do Fed se reúne pela última vez neste ano e se esperam novas indicações dos seus próximos passos.

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