CARLOS VIEIRA
Desde que o mundo existe e que o homem nasceu, o sentimento de que às vezes as pessoas e a realidade estão conspirando contra ele, é fato. Persecutoriedade, sentimento de perseguição, atitude auto referencial, como se tudo e todos estivessem olhando, controlando seu comportamento, desconfiando dele e armando tramas para prejudicá-lo, foi e sempre será vivido circunstancialmente pelas pessoas ditas normais, e quase de modo permanente, em tempo integral, pelos psicóticos, especialmente os pacientes esquizofrênicos em sua forma – esquizofrenia paranoide - segundo os tratados de psicopatologia e psiquiatria clínica, e um estado específico de loucura denominado: paranoia.
Hodiernamente, com as transformações do mundo pós-moderno, com as atitudes egocêntricas das pessoas, com a exploração nos meios de trabalho, com a implantação de Ditaduras em várias regiões do planeta terra esse fenômeno está mais frequente. Somam-se a isso, as condições precárias de segurança individual e social; as ameaças permanentes de uma guerra química, a impunidade que habita os jardins de uma vida sem direitos e segurança, assegurados na Constituição e pouco levado em consideração pelos governos; o medo e às vezes o pânico de viver nesse mundo de homicídios, estupros, gangues perversas e mortíferas.
O homem moderno é uma pessoa só, por vezes abandonada e excluída, perseguida, ameaçada, acuada, por isso é cada dia mais frequente a volta à condição tribal, simbolicamente representada pela edificação de “condomínios da vida”, no sentido concreto e metafórico; a volta à casa dos pais, na ilusão de resgatar uma segurança do ideal paradisíaco, e mais, desenvolvendo uma resistência de sair de casa para o mundo, atitude por vezes reforçada pelos pais, evidenciando os seus próprios medos de tolerar que seus filhos conquistem o mundo com coragem, criatividade e ousadia e que saibam se defender de modo civilizado.
“Viver é perigoso” já escrevia Guimarães Rosa, e mais perigoso è nascer, complementa nosso mestre dos Sertões!
No entanto existem outros aspectos que apontam para a gênese do sentimento de perseguição:
Primeiro, quanto mais narcísica, pretensiosa, arrogante uma pessoa for, mais insegura e mais ameaçada pelos seus semelhantes, tanto do ponto de vista real como imaginário ela se sente. Observem: quanto mais eu me arrogo, mas desejo mais, muito mais do que os outros; quanto mais eu tripudio meu semelhante e me coloco na vida como o “The Best”, mais carreio para mim o medo da “retaliação do outro ferido, denegrido e desconsiderado”. Quanto se implantar o poder para mim próprio, mais frágil se é, mais perseguido se fica e mais persecutório de torna. Lembram-se do aparato dos “donos do culpe de 64”? Aquela opulência poderosa, aquela atitude de tudo controlar, de tudo perseguir e de implantar de modo fundamentalista as suas ideias, pagavam o preço do medo, do medo à retaliação, do incremento da segurança, pois a cada momento podiam ser perseguidos mesmo. Violência gera ferida narcísica; ferida narcísica deixa ódio, ressentimento e desejo de vingança. Esse é um aspecto da perseguição realística.
Segundo, um sentimento de perseguição, de prejuízo à sua pessoa, desde pequeno: nascemos com medo de perder o amor dos pais; diga-se de passagem: o que fizemos contra eles para merecer tal coisa? Nascemos querendo tudo, com uma voracidade e inveja primárias até do “seio” materno, que traz qualidades físicas e psíquicas e que produz consequências trágicas e severas quando o bebê não tolera essas qualidades. Quantas vezes na vida uma pessoa deixa de aproveitar as virtudes dos outros por inveja! Nascemos pretensiosos, querendo ser “exceção”, querendo “roubar” dos nossos irmãos o amor dos pais, assim como os benefícios dados. Ato contínuo, ficamos perseguidos pelos próprios irmãos. Não é difícil imaginar a mesma coisa nas relações sociais!
Um homem que não tem amor no coração, não sofre de solidão, dizia São João da Cruz; eu acrescentaria que, sofre de solidão e de perseguição alguém que por sua destrutividade sádica, desconsideração e violência que fez com os outros cria para si uma espécie de paranoia.
Enfim, uma coisa é a persecutoriedade como reação a um trauma real, concreto; outra coisa é o sentimento de perseguição proveniente da responsabilidade da nossa maldade, instinto agressivo-destrutivo. Somos vítimas das perseguições realísticas, mas também somos perseguidos por nós próprios, pois como diz o ditado: ”uma vez é do feitiço, outra do feiticeiro”; “quem com ferro fere, com ferro será ferido”, e “um dia é da caça, outro do caçador”.
Hodiernamente, com as transformações do mundo pós-moderno, com as atitudes egocêntricas das pessoas, com a exploração nos meios de trabalho, com a implantação de Ditaduras em várias regiões do planeta terra esse fenômeno está mais frequente. Somam-se a isso, as condições precárias de segurança individual e social; as ameaças permanentes de uma guerra química, a impunidade que habita os jardins de uma vida sem direitos e segurança, assegurados na Constituição e pouco levado em consideração pelos governos; o medo e às vezes o pânico de viver nesse mundo de homicídios, estupros, gangues perversas e mortíferas.
O homem moderno é uma pessoa só, por vezes abandonada e excluída, perseguida, ameaçada, acuada, por isso é cada dia mais frequente a volta à condição tribal, simbolicamente representada pela edificação de “condomínios da vida”, no sentido concreto e metafórico; a volta à casa dos pais, na ilusão de resgatar uma segurança do ideal paradisíaco, e mais, desenvolvendo uma resistência de sair de casa para o mundo, atitude por vezes reforçada pelos pais, evidenciando os seus próprios medos de tolerar que seus filhos conquistem o mundo com coragem, criatividade e ousadia e que saibam se defender de modo civilizado.
“Viver é perigoso” já escrevia Guimarães Rosa, e mais perigoso è nascer, complementa nosso mestre dos Sertões!
No entanto existem outros aspectos que apontam para a gênese do sentimento de perseguição:
Primeiro, quanto mais narcísica, pretensiosa, arrogante uma pessoa for, mais insegura e mais ameaçada pelos seus semelhantes, tanto do ponto de vista real como imaginário ela se sente. Observem: quanto mais eu me arrogo, mas desejo mais, muito mais do que os outros; quanto mais eu tripudio meu semelhante e me coloco na vida como o “The Best”, mais carreio para mim o medo da “retaliação do outro ferido, denegrido e desconsiderado”. Quanto se implantar o poder para mim próprio, mais frágil se é, mais perseguido se fica e mais persecutório de torna. Lembram-se do aparato dos “donos do culpe de 64”? Aquela opulência poderosa, aquela atitude de tudo controlar, de tudo perseguir e de implantar de modo fundamentalista as suas ideias, pagavam o preço do medo, do medo à retaliação, do incremento da segurança, pois a cada momento podiam ser perseguidos mesmo. Violência gera ferida narcísica; ferida narcísica deixa ódio, ressentimento e desejo de vingança. Esse é um aspecto da perseguição realística.
Segundo, um sentimento de perseguição, de prejuízo à sua pessoa, desde pequeno: nascemos com medo de perder o amor dos pais; diga-se de passagem: o que fizemos contra eles para merecer tal coisa? Nascemos querendo tudo, com uma voracidade e inveja primárias até do “seio” materno, que traz qualidades físicas e psíquicas e que produz consequências trágicas e severas quando o bebê não tolera essas qualidades. Quantas vezes na vida uma pessoa deixa de aproveitar as virtudes dos outros por inveja! Nascemos pretensiosos, querendo ser “exceção”, querendo “roubar” dos nossos irmãos o amor dos pais, assim como os benefícios dados. Ato contínuo, ficamos perseguidos pelos próprios irmãos. Não é difícil imaginar a mesma coisa nas relações sociais!
Um homem que não tem amor no coração, não sofre de solidão, dizia São João da Cruz; eu acrescentaria que, sofre de solidão e de perseguição alguém que por sua destrutividade sádica, desconsideração e violência que fez com os outros cria para si uma espécie de paranoia.
Enfim, uma coisa é a persecutoriedade como reação a um trauma real, concreto; outra coisa é o sentimento de perseguição proveniente da responsabilidade da nossa maldade, instinto agressivo-destrutivo. Somos vítimas das perseguições realísticas, mas também somos perseguidos por nós próprios, pois como diz o ditado: ”uma vez é do feitiço, outra do feiticeiro”; “quem com ferro fere, com ferro será ferido”, e “um dia é da caça, outro do caçador”.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.
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