quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Prenúncio de caos no setor aéreo - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE


CORREIO BRAZILIENSE - 12/12
Bastou começar a alta temporada que o transporte aéreo já sinalizou o caos para os usuários. Logo no primeiro sábado de dezembro, uma das principais companhias, a Gol, registrou média de atrasos nos voos superior a 40%. Com isso, a ladainha de sempre também se fez ouvir rápido: o governo sacou o discurso da cobrança de multas e exigiu da empresa mais rapidez na solução de problemas e melhor atendimento aos clientes. A questão é que apenas falar grosso não resolve. O Brasil carece de providências de fato, capazes de superar de vez a insegurança que impera no setor.
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) reconheceu que várias companhias sofreram consequências dos temporais de dois dias antes. As chuvas chegaram a interromper as operações de diversos aeroportos, provocando atrasos em mais de 20% dos voos na sexta-feira. Mas, como lembrou o ministro da Secretaria de Aviação Civil, Moreira Franco, esse tipo de ocorrência precisa ter os efeitos minimizados, seja com tecnologia, seja com gerenciamento eficiente. A exceção foi a Gol, que demorou a controlar a situação.

Ora, numa engrenagem em que as peças são interdependentes, o mau funcionamento de uma desencadeia efeito cascata. Um avião que não chega no horário, por exemplo, pode atrapalhar conexões - da mesma ou de outra companhia. De igual forma, a precária infraestrutura aeroportuária prejudica a todos. Portanto, a solução precisa ser global, pensada de ponta a ponta do sistema: do estacionamento às longas filas do check-in. Se tudo não funcionar como um relógio, algo certamente vai dar errado.
Em outras palavras: centrar o foco na Gol não basta. Aliás, a Skytrax, empresa inglesa que elenca as melhores companhias aéreas do mundo, registra este ano piora no desempenho das brasileiras. A mais bem situada no ranking internacional, a TAM, foi do 32º lugar em 2012 para o 39º em 2013; a Azul, do 54º para o 67º; e a Gol nem aparece entre as 100 primeiras.

Ao usuário, pouco interessa de quem é a culpa. O passageiro quer conforto, pontualidade, segurança, bom atendimento e preço justo - na pior das hipóteses, a garantia do direito constitucional de ir e vir. Não é possível que nem isso um país do tamanho e da força do Brasil, sexta economia mundial, consiga assegurar. Afinal, lá se vão seis anos desde o apagão que transformou aeroportos em acampamentos de viajantes e obrigou a Anac a passar por reformulação, com apadrinhados políticos despencando de cargos que deveriam sempre ser preenchidos por profissionais gabaritados.

Só o Juizado Especial no Aeroporto de Brasília recebeu cerca de 12 mil queixas do começo de 2012 para cá. Se consideramos os 24 meses cheios, são 500 por mês. Isso, sem contar as reclamações direcionadas à Anac e aos órgãos de defesa do consumidor. É o efeito cascata do caos extrapolando os limites do transporte aéreo nacional. E vêm aí a Copa do Mundo, ano que vem, e as Olimpíadas, em 2016. Se o país estará pronto, é incógnita que preocupa menos o cidadão do que o dia a dia infernal que já enfrenta. E não é de hoje.

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