quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Quando o pessimismo é normal - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 12/12

'Mercado' é pessimista demais, 'empresários', menos, diz governo, mas desânimo é médio e geral


OS "EMPRESÁRIOS" não são pessimistas como os "financistas", propagandeia o governo a fim de diluir as críticas a sua política econômica.

É difícil discutir uma afirmação de vagueza tão vaporosa. Mas, até onde a vista alcança os indicadores de expectativas e as previsões econômicas, não parece verdade o que diz o governo.

As previsões de crescimento da economia para 2014 andam em torno de 2%, inferior ao de 2013. Economistas de instituições financeiras e consultorias ouvidos semanalmente pelo BC dão o chute informado de 2,1%. Mas o pessoal da indústria paulista, pelo menos o da Fiesp, também acredita que o PIB cresce 2%. Tudo na mesma média, pois.

É verdade que tais previsões são feitas por economistas, que usam métodos parecidos de mastigar e cuspir números, não importan- do muito se assessoram associações da indústria, do comércio ou da finança.

Os economistas, porém, não trabalham só com matemáticas divertidas, pressupostos temerários e estatísticas mortas. Vários dos números que usam expressam a opinião de empresários sobre o futuro dos negócios, de modo direto ou indireto.

A Sondagem de Investimentos da Indústria de Transformação, da FGV, do bimestre passado, indica que a proporção de empresas que pretende investir mais em 2014 é semelhante àquela registrada em 2012 (para investir em 2013).

A confiança do consumidor, do empresário industrial, do comércio e da construção civil melhorou um pouco neste final de ano, mas está bem abaixo da média histórica.

A Federação do Comércio de São Paulo, por sua vez, acredita que o faturamento do setor vai crescer menos em 2014.

Os bancos dizem que o total de crédito no ano que vem vai crescer no mesmo ritmo de 2013, que não foi lá ruim, mas não serviu para impulsionar o crescimento. Trata-se do resultado de um exame de quanto é possível emprestar sem perder dinheiro demais e de quanto o cliente vai querer de crédito: uma avaliação da economia "real".

Outros donos do dinheiro grosso, credores do governo, expressam suas "opiniões" por meio da taxa de juro.

Os juros deram uma disparada desagradável em 2013. Logo, os donos do dinheiro, o "mercado", está "pessimista" sobre o futuro da economia nos próximos dois ou três anos.

Mas o próprio governo tratou de dizer que esse bicho não é tão feio, que a alta de juros não foi um voto de reprovação da política econômica ou do país (mas foi). Os juros subiram na praça, diz o pessoal do governo, porque o Banco Central está em campanha para elevá-los e devido a mudanças dos juros nos EUA.

É quase tudo verdade. De qualquer modo, o próprio governo afirma que "o mercado" (financistas) não está tão pessimista.

Enfim, da indústria ao comércio, passando pela finança, a impressão média e pouco dispersa é que 2014 será sem graça como 2013. Sim, os ânimos podem mudar, ainda mais se o governo parar de fazer bobagem, se o resto do mundo crescer algo mais, se a mudança da política econômica americana não for muito tumultuada (para nós) etc.

Por ora, há convergência sobre a mediocridade de 2014; se há "pessimismo", ele é disseminado. O governo está de desconversa mole.

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