quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Acrobacias, mas políticas - ELIANE CANTANHÊDE


FOLHA DE SP - 12/12

BRASÍLIA - Além de listar o mandachuva da Dassault em sua comitiva, o presidente da França, François Hollande, incluiu uma curiosidade na agenda de hoje em Brasília: um "encontro privado" com o ex-presidente Lula. As duas coisas apontam para um pesado lobby pelo caça Rafale na renovação da frota da FAB.

Por que Hollande se encontraria com Lula na casa do embaixador francês, depois de se reunir oficialmente com Dilma e assinar acordos e declaração conjunta? Não deve ser para tomar chá, até porque chá é coisa de inglês. Mas bem pode ser para falar de caça, já que Lula foi o grande defensor dos Rafale.

As chances do caça francês, porém, parecem bem pequenas. É o mais caro, sua manutenção também é a mais cara, tirou terceiro (e último) lugar no relatório da FAB, nunca teve a simpatia do Comando da Aeronáutica e foi perdendo o seu grande trunfo: o apoio político. Depois de assinar o acordo bilionário dos submarinos e viver aos abraços com o então presidente Nicolas Sarkozy, Lula só teve más notícias de Paris.

Primeiro, Sarkozy tirou o tapete do Brasil e votou contra o acordo do Irã na ONU. Depois, Hollande não apoiou o candidato de Dilma e do Itamaraty na OMC --que, além de tudo, foi vitorioso. Entre as duas coisas, os helicópteros franceses das Forças Armadas viraram uma encrenca.

Se o Planalto era pró-Rafale com Lula, passou a ser a favor do americano F-18, da Boeing, com Dilma. Mas o F-18 se chocou em pleno ar com as denúncias de espionagem.

Nessas acrobacias todas, a Aeronáutica voa em círculos, ao sabor das conveniências políticas, e já está lá pelo quarto relatório sobre os caças. O primeiro deu vitória ao Gripen NG, da Saab sueca, o segundo foi enviesado pela Defesa para o Rafale e o terceiro destacou grandes virtudes e as novas ofertas do F-18. Comenta-se agora, no próprio governo, que o Gripen está de novo na parada.

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