quinta-feira, 11 de julho de 2013

‘A fúria das férias’, por Carlos Brickmann


Publicado na coluna de Carlos Brickmann
CARLOS BRICKMANN
Estudantes em férias, trânsito melhor, menos manifestações com menos gente. Após a tempestade vem a bonança ─ mas quem disse que a tempestade passou?

Talvez não tenha passado. Amanhã, quinta, há greve geral marcada pelas centrais sindicais. A menos que fracasse, é confusão brava. Pior: algumas centrais tentam criar uma figura nova na História, a greve geral a favor do Governo; uma delas, a Força Sindical, age na direção oposta e prega o quanto pior, melhor. O líder da central opositora, deputado Paulinho da Força, do PDT paulista, ameaça gerar confrontos com as outras centrais, levando cartazes “Fora, Dilma” às manifestações. Diz: “Nosso trabalho é empurrá-la para o buraco”. Como se fosse possível jogar uma presidente da República no buraco sem que o país vá junto.
A Federação Nacional dos Médicos tem reunião de emergência também amanhã, em Brasília, às 10 da manhã. O objetivo é protestar contra o plano de importação de médicos estrangeiros, que nem precisariam revalidar seus diplomas. A Federação pensa até, entre outras possibilidades, em greve nacional de médicos.
Quem do Governo dialoga com os médicos? Gilberto Carvalho, até agora o negociador, está fora; Gleisi Hoffman, da Casa Civil, e Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, foram esvaziadas. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, nem sabia da importação de médicos ─ uma ideia do chanceler Antônio Patriota (sim,ele as tem!) Entretanto, como dialogar com médicos sem pisar no ministro da Saúde? Patriota é o pai da confusão, mas a burocracia o livra de pagar por ela.
Fio de bigode
Restaria, com prestígio oficial para negociar, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Mas às dez da manhã? Ele precisa de tempo, depois de acordar, para aparar com perfeição, fio a fio, aquele bigode que só falta encerar, e fazer cara de bravo (acreditem: longe de estranhos, ele é afável, até parece normal). 
Só assim Mercadante se sente apto a aparecer em fotos, mais uma vez, perto da presidente.
Data-limite
E tudo tem de acabar até o dia 22, quando o papa Francisco chega ao Brasil.
Que mundo! 
Chico Buarque, o profeta, dizia que não existe pecado do lado de baixo do Equador. Nem sempre os profetas acertam. Chico dizia também que boi voador não pode. Só que, agora, se o caro leitor imaginar que viu bois voando, é que viu mesmo.
Pois não é que índios entraram no STJ com ação criminal por calúnia e difamação contra seu maior defensor no Governo, o ministro Gilberto Carvalho? Os mundurucus o processam por ter dito que alguns índios se dedicam ao garimpo ilegal de ouro. O mundo está tão esquisito que Carvalho pode até ter razão.
Olhos e ouvidos
Se o Governo brasileiro se surpreendeu com a ação da espionagem americana, está lamentavelmente atrasado. Um excelente livro de 1994, O Punho de Deus, de Frederick Forsyth, tem enredo de ficção, mas conta como funcionava, alguns anos antes, a espionagem dos EUA. Descrevem-se os equipamentos da época e usa-se a seguinte frase, a respeito do Iraque de Saddam Hussein: “Se fosse dito, eles poderiam ouvir. Se se deslocasse, poderiam ver. E, se soubessem a respeito, poderiam destruir”.
O livro tem 19 anos e descreve o mundo de 23 anos atrás.

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