Ézio Flávio Bazzo
Nunca as elites, os porta-vozes da pátria e os papagaios da mídia estiveram tão de acordo sobre uma questão e sobre um determinado assunto como estão agora a respeito dos “vândalos” e do “vandalismo”.
Quando falam das manifestações que, aliás, prometem incendiar o país nos próximos dias, só se ouve desses nada confiáveis senhores a mesma e enfadonha repetição, a mesma pobre e medíocre lengalenga de que “manifestação é um direito democrático mas….. sem vandalismo…”. Esse papo idiota equivale mais ou menos a receitar sexo sem orgasmo!.. Será que estão meio atordoados pela memória de que foram os vândalos que no ano 455 saquearam e derrubaram os facínoras de Roma?…
E depois.., como se vandalismo fosse apenas queimar um ônibus, depredar um banco, pichar uma parede, derrubar uma cerca, subtrair alguns produtos de uma loja que os compra por 50 dólares e que, com a complacência do estado e do mercado, os vende por 600,.. sem perceberem que as manifestações, ironicamente, são exatamente contra o vandalismo político, bancário, judicial, comercial e etc., instalado de norte a sul do país e que vêm destruindo e sufocando o patrimônio moral, cognitivo e ético dos avós, pais e dos próprios manifestantes, há décadas.
E é curioso ver a turma dos politicamente entendidos, dos DAS 6, dos donos de programas na TV (que ganham dois três milhões por mês só tagarelando merdas e bobagens moralistas e beatas) fingindo não entender o que está acontecendo. Ou são muito burros e cegos ou são demasiadamente cínicos, uma vez que eles próprios, são exemplos de vandalismo moral, social e econômico pois, em troca de suas suspeitas concessões, sempre apoiaram irrestritamente, a todo e qualquer vândalo de turno…
REVOLTA DO DESESPERO
Mesmo que nestas manifestações ainda não haja nenhuma reivindicação explícita, que tudo pareça difuso, apenas uma réplica das amotinações das sociedades pré-industriais, apenas uma revolta do desespero… está na cara o que se deseja. Que ninguém se faça de besta! Manifestação pacífica? Um povo que não manifesta seus sentimentos, sua raiva e seu nojo, por vergonha, preguiça ou medo é um povo condenado à ruína. Manifestação não se submete a conselhos e nem a ordenamentos burocráticos, muito menos quando eles são dados por uma corja que sabe muito bem onde estão verdadeiramente enterradas as raízes dessa indignação popular.
Como dizia uma das manifestantes de vinte anos: o que é uma lixeira incendiada, diante de um estádio inútil que custou mais de um bilhão de reais? O que é uma pichação nas paredes do Teatro Municipal, diante dos contratos e das conivências entre estado e empresas de transporte urbano? O que significam os rabiscos na cara do busto de um bandeirante, comparados ao MAB fechado há mais de dez anos, com centenas de obras de arte apodrecendo?
O que representa a queima do carro de uma TV diante do que faturam as tevês, só com a inútil e superfaturada propaganda estatal? O que significam cinco ou seis feridos nas passeatas, diante dos 400 assassinatos que já aconteceram aqui no DF só nos primeiros cinco meses do ano? O que representa uma agência bancária pisoteada e apedrejada diante do assalto legalizado que os bancos praticam com seus ingênuos clientes? Nada. Absolutamente Nada.
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