segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

POEMA DA NOITE Sonetos que não são - Hilda Hilst



Aflição de ser eu e não ser outra. 
Aflição de não ser, amor, aquela 
Que muitas filhas te deu, casou donzela 
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela. 
Aflição de não ser a grande ilha 
Que te retém e não te desespera. 
(A noite como fera se avizinha.)
Aflição de ser água em meio à terra 
E ter a face conturbada e móvel. 
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera. 
Aflição de te amar, se te comove. 
E sendo água, amor, querer ser terra.

Hilda de Almeida Prado Hilst (Jaú, 21 de abril de 1930 - Campinas 4 de fevereiro de 2004) - Foi poeta, ficcionista e dramaturga. Considerada uma das mais completas personalidades literárias do Brasil. Formou-se na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e começou, ainda estudante, a escrever poesia, passando mais tarde para o teatro e a ficcção. Recebeu os mais importantes prêmios líterários do Brasil, entre eles o Jabuti, Cassiano Ricardo e o Prêmio Moinho Santista.

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