Poucas vezes fui ao cinema para ouvir vixe ou oxe. Na novela você ainda escuta um sotaquezinho, com a entonação errada, mas ouve. Na telona não. Se não for um “oh, my God”, o artista principal solta umas palavras com tanto S e R que você fica na dúvida se aquilo é mesmo cinema nacional.
E o cenário então? Dificilmente tem coqueiro ou o Rio Capibaribe ao fundo.
Então, dia desses, saí toda empolgada de casa para assistir a um longa-metragem falado em nordestinês, sem clichês, e com as plantações de cana-de-açúcar como paisagem.
Uma belezura de filme!
Não porque o diretor é recifense, apesar do meu bairrismo crônico, mas pela delicadeza e sutileza do roteiro.
Em primeiro lugar o filme não se explica muito, coisa que, de cara, ganhou meu coração. Afinal, todo roteirista deveria saber que o público tem mais de dois neurônios e entende a história sem precisar que a mocinha fique se explicando a cada cena.
A película conta a história (calma, não vou trollar o enredo, vou só contar, de leve, o assunto do filme) de uma menina de 12 anos, rica e provavelmente mimada, que é deixada na estrada, voltando da praia de Tamandaré, por seus pais.
O nome do filme é Eles Voltam, só que, ops, eles não voltam. Aí, a garota é obrigada a sair do casulo que sempre viveu (shopping/motorista/ar-condicionado) e se virar. E é, justamente nessa parte, que o roteiro tem o não-clímax perfeito: apontar, com o dedo indicador na cara, essa mazela da modernidade: sociedade-bolha.
Crianças e adolescentes que só pisam no chão com chinelo emborrachado e só se divertem em ambientes climatizados, controlados e sob supervisão de adultos responsáveis (oi?).
Largada no meio do caminho, Cris, a protagonista, só tem um iphone, com a bateria descarregada, e nenhum lugar para ir. Sem dinheiro nem comida e com a falta de senso de direção peculiar desta geração, a menina começa a entender que o mundo é mais do que fazer compras na boutique da moda.
Os silêncios e cenas demoradas, bem diferentes das perseguições de carros com explosões e efeitos especiais do cinema gringo, geram uma ansiedade no telespectador que espera o clímax seguido do final feliz. Este não chega, porque, assim como a vida, o filme flui como as águas do Capibaribe.
Filme: Eles Voltam.
Diretor : Marcelo Lordello
*Prêmio de melhor filme no Festival de Brasília, melhor atriz para a adolescente Maria Tavares e melhor atriz coadjuvante para a adolescente Elayne Moura.
Diretor : Marcelo Lordello
*Prêmio de melhor filme no Festival de Brasília, melhor atriz para a adolescente Maria Tavares e melhor atriz coadjuvante para a adolescente Elayne Moura.
Téta Barbosa é jornalista, publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve Todos
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