segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - PINTURA Johannes Vermeer : A Ruela (1657-1661)



Johannes Vermeer nasceu em 1632 na cidade de Delft, então uma próspera cidade holandesa. Pelo que se sabe, muito poucas vezes o artista deixou sua linda cidade. A riqueza de Delft provinha de suas fábricas de louças, de seus ateliers de tapeçaria e da fabricação de cerveja.
Era cidade histórica com um passado valoroso, com belas e eficientes fortificações que defenderam a cidade por mais de 300 anos. Durante a revolta contra a ocupação espanhola, que durou de 1572 a 1584, o Príncipe de Orange, Guilherme o Taciturno, ali se refugiou.
A corte e a sede do governo se transferiram para Haia ao final do século XVI, mas Delft continuou a gozar de uma posição especial no território holandês.
Sua família seria considerada hoje de classe media baixa. Seus avós e sua mãe eram iletrados. Seu pai era um estalajadeiro e membro da Guilda de São Lucas, o que lhe dava permissão para comerciar com quadros. Mas muitas vezes ele se descrevia como comerciante de sedas. Especula-se que as belas sedas e cetins nos quadros de Vermeer são recordações da infância, quando se via cercado por esses lindos tecidos, assim como seu interesse por pintura deve ter surgido ao acompanhar a carreira de marchand do pai.
Como sempre, devo avisar que em cinco dias é muito difícil falar de um pintor como Vermeer. Sua obra não é vasta, deixou apenas 34 quadros reconhecidos oficialmente como seus. Mas cada um deles é uma obra-prima e portanto vou me limitar a falar mais em sua obra que em sua vida.


A Ruela é um quadro diferente de todos os outros de Vermeer. Casas simples, uma rua tranquila, onde impera o silêncio, senhoras em seus trabalhos domésticos, duas crianças brincando, tijolos envelhecidos, madeiras e alvenaria bastante usadas, tudo era calma e beleza, como diria Baudelaire. Seria mesmo assim?
É impressionante o que já se dedicou de tempo e papel na tentativa de identificar qual foi a rua de Delft pintada pelo artista. Alguns nomes são sempre citados, mas a que leva mais chance é a Voldersgracht, rua onde ele provavelmente nasceu. Alguns anos depois do seu nascimento, seu pai saiu com a família da pequena estalagem onde vivia e trabalhava e se mudou para uma estalagem mais espaçosa, a Mechelen, com fundos para essa rua.
Parece que o que vemos na tela são os fundos da Mechelen, que davam para um pequeno canal e para a fachada do Lar Municipal dos Idosos. A entrada daMechelen era na Praça do Mercado, que nós não vemos.

(detalhe) Com toda a certeza o ponto de vista do pintor era o nosso hoje: ele devia estar numa casa ali em frente, num segundo andar e não muito distante.
O que torna muito complicado identificar com exatidão o local é o fato de ser muito possível que os detalhes colocados na tela por Vermeer nunca tenham existido ali, quer dizer, que sejam vários detalhes de várias casas e ruas que ele juntou em sua tela: o conjunto uma criação imaginada por ele.
Da janela de sua casa e de seus passeios pelas ruas da cidade, ele pode ter tirado a inspiração, por isso é possível que essa não seja uma paisagem real.
O que se sabe ao certo é que essa é a mais antiga pintura conhecida que retrata uma rua e só a rua e suas casas. Os paisagistas flamengos com certeza pintaram ao ar livre, mas seus quadros têm sempre detalhes de um interior, da visão de uma janela, de um pátio. A rua e só a rua e suas casas, essa é uma criação de Vermeer.
Um detalhe que a todos que sabem que ele teve 15 filhos (4 morreram ainda bebês) intriga e emociona: as crianças entretidas em seus jogos, brincando na rua (detalhe abaixo). 


A Ruela é óleo sobre tela, mede 53.3 x 44.0 cm 
Acervo Rijksmuseum, Amsterdam
Fontes: texto de Ludwig GoldscheiderVermeer, Londres, 1958

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