segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

CRÔNICA Cartas de Londres: a cidade em (nenhum) clima de Mundial



Desde a madrugada de dia 5 de julho, enquanto celebrava na Avenida Paulista, penso no Japão. Por uma grande vontade de repórter e outra de acompanhar o Corinthians, estou rumo a Tóquio.
Nos últimos cinco meses nesta cidade, tratei do assunto com todos os torcedores do Chelsea que conheci. A resposta mais animada veio há alguns dias. “Verdade, tem isso. Tomara que sirva para demitirmos o treinador que nos tirou da Liga dos Campeões e perdeu a liderança do campeonato inglês.” Nos jornais, nada.
O Mundial de Clubes da Fifa, prioridade na América do Sul, é um torneio amistoso para os britânicos. Azar deles. Os espanhóis e os italianos ligam mais. Mas a indiferença do Chelsea é tão grande quanto a de qualquer outro clube do país -- apenas o Manchester United já levantou o trofeu (1999 em cima do Palmeiras e em 2008, ganhando dos equatorianos da LDU). A vitória do Barcelona por 4 x 0 sobre o Santos em 2011 nem sequer foi transmitida na TV, contam os colegas.
O mais fanático fã do Chelsea na minha classe se chama Romil. Um dos mais brilhantes da sala, com uma especialização feita na França e outros que tais, ele usa a camisa do time por baixo do casaco quase todos os dias. Se não é o uniforme, é um cachecol.
Vai aos jogos e o pai dele, um bem sucedido advogado ainda mais fanático, viaja ao exterior para as partidas mais importantes. Eis o que ele diz sobre o Mundial: “Eu vou assistir aos jogos, mas aqui a Liga dos Campeões é o que importa. Vencer no Japão não nos ajuda em nada na Europa.”
Ele gosta tanto do futebol brasileiro que conhece o nome dos nossos clubes (entre os sul-americanos, famoso mesmo é o Boca Juniors). Romil já esteve no Brasil, a aparência lhe permitiria ter nascido em Salvador e ele gosta tanto do país que cogita viver aí algum dia.
É tão fã do Ronaldo que decorava seu quarto com um pôster do Fenômeno -- quando lhe arrumei um autógrafo do homem ele gritou de alegria. Se nem um cara assim se importa, a questão não pode ser arrogância. É simplesmente uma cultura de ver menos peso no torneio.
Durante a Libertadores da América, os britânicos já estão dormindo quando os jogos começam. No Brasileirão, a competição é com as partidas noturnas da Liga Espanhola -- e as torcidas do Barcelona e do Real Madrid por aqui são enormes.
Por isso, se der tudo certo, dia 16 de dezembro será a primeira vez em que muitos londrinos verão uma equipe brasileira em campo. O Chelsea é o primeiro clube da cidade a conquistar a Europa e a jogar o Mundial, tanto nas edições da Fifa como na antiga Taça Intercontinental.

Foto: Divulgação

O time inglês não teve festa no embarque. Talvez celebrem se vencer. Mas em 17 de dezembro, haja o que houver, o pulso de Londres não vai mudar. Ainda bem que estarei perto de onde tudo vai acontecer. Passar um dia desses em casa ou no Guanabara -- um reduto de brasileiros aqui -- me deixaria com uma inveja do tamanho do mundo de quem for à Avenida Paulista de novo.

Maurício Savarese é mestrando em Jornalismo Interativo pela City University London. Foi repórter da agência Reuters e do site UOL. Freelancer da revista britânica FourFourTwo e autor do blog A Brazilian Operating in This Area  Twitter: msavarese. Emailsavarese.mauricio@gmail.comMaurício estará conosco todas as segundas-feiras.

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