Operador do mensalão teria recusado proposta de pagamento a empresário que envolveria Lula na morte do ex-prefeito
SÃO PAULO - Reportagem da revista “Veja” desta semana afirma que o operador do mensalão, Marcos Valério, foi procurado pelo PT para pagar um empresário que ameaçava envolver o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a morte do então prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em 2002.
Valério teria negado, segundo declaração à “Veja”. “Eles achavam que [o pagamento] ia ser através de mim, eu falei assim: 'Nisso aí eu não me meto, não'”Segundo o Ministério Público de São Paulo, durante a gestão do ex-prefeito petista Celso Daniel na prefeitura de Santo André, foi montado um esquema de desvio de recursos públicos. O dinheiro desviado iria financiar campanhas políticas do PT. Divergências em relação ao esquema teriam levado o empresário Sergio Gomes da Silva, amigo de Daniel, a encomendar o assassinato do então prefeito.Segundo a reportagem de “Veja”, a chantagem envolvia o empresário Ronan Maria Pinto, apontado pelo Ministério Público de São Paulo como integrante de um esquema de recolhimento de propina montado pelos petistas na gestão de Daniel. Ronam, de acordo com a reportagem, ameaçava envolver Lula e Gilberto Carvalho no episódio e pedia dinheiro para ficar em silêncio. Foi com esse cenário que Valério foi chamado pelo então secretário-geral do PT, Silvio Pereira, para uma reunião. A ideia era utilizar Valério para realizar os pagamentos a Ronan.
Segundo a “Veja”, apesar da negativa de Valério, Ronan acabou sendo pago por um “amigo pessoal de Lula”, por meio de um banco “que não faz parte do mensalão”.
O publicitário estaria disposto a revelar mais informações à Justiça, em troca de benefícios no cumprimento da sua pena. Ainda segundo a revista, Valério também diz ter informações sobre o escândalo dos aloprados, em que militantes petistas foram presos em um hotel de São Paulo. O dinheiro seria utilizado para comprar um dossiê contra adversários do partido.
Marcos Valério também já tinha mencionado o nome do prefeito Celso Daniel em depoimento prestado ao procurador-geral da República, Roberto Grugel, em setembro. De acordo com reportagens da edição anterior de “Veja” e do jornal “Estado de S. Paulo” de ontem,Valério mencionou nomes que não foram citados no processo em julgamento no Supremo Tribunal Federal, como o do ex-presidente Lula e do ex-ministro Antonio Palocci. O publicitário informou ainda ter feito outras remessas de recursos para o exterior e falou sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel.
A edição anterior da revista traz a informação de que, também em setembro, Valério enviou um fax ao Supremo Tribunal Federal pedindo proteção de vida em troca de informações.
“Veja” diz ter gravações de conversa
Em entrevista publicada na noite de quinta-feira pelo portal de notíciasComunique-se, a direção da revista Veja confirmou, pela primeira vez, ter entrevistado Marcos Valério e gravado a conversa que embasou a reportagem.
Antes, a revista alegava que a reportagem havia sido feita com base em revelações de Marcos Valério a parentes, amigos e associados. Na “Carta ao Leitor” daquela edição, inclusive, a direção afirmava que Valério “não quis dar entrevista sobre as acusações indiretas do envolvimento de Lula”.
Segundo Eurípedes Alcântara, diretor de redação, o publicitário é quem vai decidir se o conteúdo da gravação realizada será divulgado ou não. Para o executivo da Editora Abril, a exposição do material é "uma prova desnecessária" para comprovar que o encontro realmente aconteceu.
Logo após a publicação da reportagem, o advogado de Valério, o criminalista Marcelo Leonardo, disse que seu cliente não deu a entrevistae negou as declarações atribuídas a ele. O fato levou o colunista do GLOBO Ricardo Noblat a aventar a possibilidade de a revista publicar o conteúdo das conversas - o que não aconteceu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário