sábado, 3 de novembro de 2012

ESCRAVIDÃO



Marc Aubert
É hábito se colocar a culpa da escravidão nos europeus, considerando-se a escravidão negra, nos tempos ainda recentes. Mas é um erro histórico. Porque isso faz parte da vivência da humanidade desde tempos imemoriais, onde muitas tribos indígenas até consideravam que comer o corpo de um membro valente de tribos vencidas e escravizadas fazia com que adquirissem suas virtudes. E os bárbaros amarelos que arrasavam outros países, levando os que não tinham sido mortos como escravos. E os mouriscos que também tinham esse hábito. Sem contar que os escravos negros fornecidos aos europeus já eram escravos de outras tribos negras. Não foi um sistema inaugurado por brancos. Minha intenção é tratar de um assunto correlato.
Sabem o que é coltan? É uma mistura de minerais, columbita e tantalita. Chamados de ouro cinzento, é muito escasso na natureza e é um recurso estratégico. Do primeiro se extrai o nióbio e do segundo o tântalo. Este um metal de alta resistência térmica, corrosiva e eletro-magnética, importantíssimos na composição dos capacitores dos eletrônicos portáteis. O nióbio é fundamental por ser hipercondutor. Dos 100% das reservas conhecidas, 5% estão no Brasil, 5% na Tailândia, 10% na Austrália e 80% na África, quase tudo no Congo, que tem 70 milhões de habitantes, a esperança de vida é de 47 anos, sua superfície é de 5 vezes a Espanha, o presidente(?) é Joseph Kabila.
O boom da tecnologia recente fez com que o preço do coltan tenha chegado a 500 dólares o kilo. Como eles são obtidos já é outra história. O Congo é o principal alvo das Cias, todas da área eletrônica, Nokia, Samsung, Motorola, Sony, LG, Apple, Dell, HP, Toshiba, Microsoft, Intel, IBM, Canon, e dezenas de outras. As minas e o método são parecidos aos dos antigos pesquisadores de ouro do Oeste Americano. Um bom trabalhador pode produzir um kilo de coltan por dia. Enquanto um trabalhador de coltan pode conseguir de 10 a 50 dólares por semana, um trabalhador congolês ganha 10 dólares POR MÊS. Camponeses e criadores de gado jovens deixam seus campos, há os deslocados por guerras, os prisioneiros de guerra e milhares de crianças, cujos corpos podem entrar facilmente nas minas. Sempre vigiados por militares. Em conseqüência, os bosques e campos de cultivo transformam-se em lodaçais, as crianças não vão para a escola, doenças se disseminam por falta de água limpa, alimentos, jornadas esgotantes e… AIDS, que leva à morte. Diferentes grupos armados controlam as minas. A ONU estima que cada quilo de Coltan custa a vida de duas crianças. Muitos em razão dos desmoronamentos, com galerias sem reforços. Já vimos essa história em Serra Pelada, no Brasil. O Congo tem milhares de desalojamentos forçados, de civis que fugiram de suas casas. Milhões de refugiados e violação de mulheres idosas e meninas. Os parques nacionais do Congo foram invadidos para exploração, os trabalhadores extraem de sol a sol, dormem e alimentam-se na selva montanhosa. Deixaram de cultivar suas terras. A população de elefantes diminuiu 80% e os gorilas estão praticamente extintos. A ONU denuncia a exploração dos recursos naturais, com informações que Ruanda, Uganda e Burundi estão envolvidos no contrabando de coltan. Parece que o exército ruandês conseguiu 250 milhões de dólares em 18 meses com a venda de coltan, apesar do minério não existir em Ruanda. Os grandes fabricantes de eletrônicos não querem que pare a guerra, e os governos consentem. Que importa a ocorrência de 5 milhões de mortes? Os meios de comunicação mundial não falam da guerra. Tal como da máfia dos laboratórios produtores de medicamentos. Sobra uma pergunta: Será que precisamos trocar de celulares, pads, notebooks e etc. cada seis meses? A ânsia desses produtos ajuda a manter esse estado de coisas. Colabore usando seus produtos por muito mais tempo.
(1) Foto: Trabalho escravo de crianças nas minas do Congo

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