CARLOS VIEIRA
A falta de uma pessoa, da terra em que se nasceu, de um dos projetos de vida que terminou, enfim, a ausência de uma experiência psíquica e afetiva tanto em relação a uma pessoa ou ideal que se perde – cria um espaço vazio, uma fratura existencial e uma solução de continuidade na estrada da vida que percorremos.
A perda já aconteceu, não há retorno. O que fica das experiências de perdas? Como lidar com a ausência?
Dois recursos psíquicos estão na alma da pessoa para fazer face a esses tipos de experiências traumáticas: o recurso do Luto e a entrada no estado depressivo. O leitor tal ache curioso falar em recurso quanto ao estado depressivo. Conjecturo que mesmos os estados psicopatológicos, são recursos psíquicos para tentar sobreviver a uma catástrofe maior.
Então, hoje destacarei a capacidade de fazer luto, pois é daí que se pode chegar e experimentar o sentimento de saudade. Para tentar ser mais objetivo (sobre os aspectos da subjetividade humana!) escrevo sobre a perda de uma pessoa querida. Quando se perde alguém, “fisiologicamente”, do ponto de vista psíquico, há um tempo consequente: o tempo do luto. A vivência aguda da perda vai se transformando em lembranças, choros, momentos difíceis de serem tolerados, num recolhimento natural. A Cultura, que é sábia, o que criou? Criou no modelo religioso, a missa de corpo presente, a missa de sétimo dia, a de trigésimo e finalmente o ofício religioso de ano. O luto é um desgarramento lento e progressivo para que se possa, como consequência, poder albergar dentro da pessoa – a presença interna, afetiva da pessoa amada. Perde-se lá fora; dentro a pessoa fica constituindo seu patrimônio afetivo. Uma vez internalizado, quando se sente falta, a Saudade vem como recurso – a saudade é a presença na ausência. Sentir saudade é um privilégio, pois vai ser a forma que se pode ter alguém, ainda que se tenha perdido. Imagine leitor amigo, que sofrimento, que vazio sente alguém que não carrega dentro de si uma relação de afetuosidade com as pessoas perdidas! Essa pessoa não tem como sentir saudade e não usufrui da beleza da memória!
Ainda que a saudade seja ambígua, pois a falta implica dor, poder ter o outro dentro de si também é gostoso e saudável, pois há prazer em recordar coisas boas. E mais, o sentimento de saudade é um sentimento inteiro, integrador, e não de desespero e ameaça.
Há um pequeno texto de Cecília Meireles sobre a Saudade na Coleção – Melhores Crônicas – Cecília Meireles, seleção e prefácio de Leodegário A. de Azevedo Filho, Editora Global, reimpressão em 2012 da edição de 2003.
Escreve Cecília: “... Há uma saudade queixosa: a que desejaria reter, fixar, possuir. Há uma saudade sábia, que deixa as coisas passarem, como se não passassem. Livrando-as do tempo, salvando a sua essência de eternidade. É a única maneira, aliás, de lhes dar permanência: imortalizá-las em amor. O verdadeiro amor é, paradoxalmente, uma saudade constante, sem egoísmo nenhum.”
Cecília Meireles em sua sensibilidade e intuição aponta para uma questão sutil: quando se tenta possuir alguém, o amor passa, de amor de parceria para relação de canibalismo. O amor canibal “mata o outro” e na perda desse, o amante carrega culpa, perseguição e consequente “depressão culposa”, condição impossível de se ter saudade.
Mas a poetisa escreve sobre uma “saudade sábia”, produto de um não egoísmo e sim de uma prevalência de relação amorosa, de companheirismo, parceria e respeito. Aí lembrar é bom; e mais, é poder ter o outro quando ausente, pois o que fica dessa experiência é a instalação dentro da pessoa, do amante querido e que gostava também de quem o perdeu. Posso inferir que o ódio, a violência, são os ingredientes do vazio depressivo, e a consideração, respeito, reparação da culpabilidade inevitável são os pilares do futuro sentimento de Saudade.
A perda já aconteceu, não há retorno. O que fica das experiências de perdas? Como lidar com a ausência?
Dois recursos psíquicos estão na alma da pessoa para fazer face a esses tipos de experiências traumáticas: o recurso do Luto e a entrada no estado depressivo. O leitor tal ache curioso falar em recurso quanto ao estado depressivo. Conjecturo que mesmos os estados psicopatológicos, são recursos psíquicos para tentar sobreviver a uma catástrofe maior.
Então, hoje destacarei a capacidade de fazer luto, pois é daí que se pode chegar e experimentar o sentimento de saudade. Para tentar ser mais objetivo (sobre os aspectos da subjetividade humana!) escrevo sobre a perda de uma pessoa querida. Quando se perde alguém, “fisiologicamente”, do ponto de vista psíquico, há um tempo consequente: o tempo do luto. A vivência aguda da perda vai se transformando em lembranças, choros, momentos difíceis de serem tolerados, num recolhimento natural. A Cultura, que é sábia, o que criou? Criou no modelo religioso, a missa de corpo presente, a missa de sétimo dia, a de trigésimo e finalmente o ofício religioso de ano. O luto é um desgarramento lento e progressivo para que se possa, como consequência, poder albergar dentro da pessoa – a presença interna, afetiva da pessoa amada. Perde-se lá fora; dentro a pessoa fica constituindo seu patrimônio afetivo. Uma vez internalizado, quando se sente falta, a Saudade vem como recurso – a saudade é a presença na ausência. Sentir saudade é um privilégio, pois vai ser a forma que se pode ter alguém, ainda que se tenha perdido. Imagine leitor amigo, que sofrimento, que vazio sente alguém que não carrega dentro de si uma relação de afetuosidade com as pessoas perdidas! Essa pessoa não tem como sentir saudade e não usufrui da beleza da memória!
Ainda que a saudade seja ambígua, pois a falta implica dor, poder ter o outro dentro de si também é gostoso e saudável, pois há prazer em recordar coisas boas. E mais, o sentimento de saudade é um sentimento inteiro, integrador, e não de desespero e ameaça.
Há um pequeno texto de Cecília Meireles sobre a Saudade na Coleção – Melhores Crônicas – Cecília Meireles, seleção e prefácio de Leodegário A. de Azevedo Filho, Editora Global, reimpressão em 2012 da edição de 2003.
Escreve Cecília: “... Há uma saudade queixosa: a que desejaria reter, fixar, possuir. Há uma saudade sábia, que deixa as coisas passarem, como se não passassem. Livrando-as do tempo, salvando a sua essência de eternidade. É a única maneira, aliás, de lhes dar permanência: imortalizá-las em amor. O verdadeiro amor é, paradoxalmente, uma saudade constante, sem egoísmo nenhum.”
Cecília Meireles em sua sensibilidade e intuição aponta para uma questão sutil: quando se tenta possuir alguém, o amor passa, de amor de parceria para relação de canibalismo. O amor canibal “mata o outro” e na perda desse, o amante carrega culpa, perseguição e consequente “depressão culposa”, condição impossível de se ter saudade.
Mas a poetisa escreve sobre uma “saudade sábia”, produto de um não egoísmo e sim de uma prevalência de relação amorosa, de companheirismo, parceria e respeito. Aí lembrar é bom; e mais, é poder ter o outro quando ausente, pois o que fica dessa experiência é a instalação dentro da pessoa, do amante querido e que gostava também de quem o perdeu. Posso inferir que o ódio, a violência, são os ingredientes do vazio depressivo, e a consideração, respeito, reparação da culpabilidade inevitável são os pilares do futuro sentimento de Saudade.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasilia e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London.
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