domingo, 18 de novembro de 2012

Continuaremos de joelhos? E desarmados?



Frederico Mendonça de Oliveira
Continuaremos de joelhos? Parece que sim. Como desfazer essa falcatrua que foi tão decantada e enaltecida como um passo à frente nos teores de uma civilização, se quem abraçou isso foi uma classe média otarizada pela TV e pela escolha da omissão diante de um quadro sócio-político em essência irrespirável? Vimos patéticas, cretinas imagens nos noticiários, gente entregando armas por R$ 300, vimos pais e crianças num parquinho que, segundo o repórter, teria os brinquedos como balanço e escorrega confeccionados com metal das armas que foram fundidas para esse fim. E o babaquara com seu filhinho no colo elogiava o sentido pacifista daquela patacoada. E ainda, na verdade, vale questionar se dá pra derreter as armas e delas fazer aquela – perdoem – besteira.
Vimos também o ministro petista Márcio Thomaz Bastos dando marteladas meio catitas num revólver indefeso mostrando com isso o repúdio dele para com canos… de que ele não precisa, porque os canos que o defendem estão nos coldres de sua segurança pessoal. Isso é o Brasil, que mergulha na mais tenebrosa era de sua história. E o que marca essa era de trevas que, parece, chegou para ficar, é a violência que o Estado não mais vencerá. O Estado está impotente para defender não só o cidadão trabalhador que leva o País nas costas: está impotente para defender a si próprio.
Só podemos classificar a criminalização da posse de armas como uma canalhice de Estado, e basta perguntar quem nos garante para ficarmos “na mão” enquanto o crime dispõe de armamento cada vez maior e mais avançado – bazucas, metralhadoras sofisticadas, granadas, fuzis de alta precisão e destrutividade – e avança como instituição agora agregada ao corpo social e a cada dia mostra mais capacidade ofensiva sobre nosso aparato defensivo tanto humano quanto material.
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QUARTÉIS ATACADOS
Jamais sonhamos ver quartéis sendo atacados por bandidos, isso a gente só via em filmes de faroeste ou aventuras mirabolantes. Hoje, na prática, qualquer quartel é objeto de ataques para confisco de armas e munições. Só não levam dinheiro porque não tem isso nem nas casernas da PM nem das FFAA, a ponto de no Exército estarem mandando os recos pra comer em casa, porque não tem mais verba pra rancho…
A violência no Brasil é, por outro lado, um exemplo de criatividade. Os marginais são, histórica ou tecnicamente, produto de décadas senão de séculos de perversa política concentracionista. Não ter havido no Brasil até hoje todo um projeto no sentido de encaminhar o aperfeiçoamento social resultou na formação de um imenso exército de oposição ao modelo socialmente excludente. É asqueroso, é boçal, mas é a verdade: o Brasil está hoje mostrando ao mundo como se peita e como se vence uma estrutura de poder desumana, regressiva e sem perspectiva maior que dar aos que estão no poder o tempo suficiente para que se locupletem com assaltos ao erário.
Se deram aos brasileiros excluídos o direito de continuarem vivendo excluídos, isso acabou sendo convertido em massa hoje organizada para a prática da expropriação do – por enquanto – “excedente de capital burguês”, no jargão dos comunistas, e quem detém esse excedente é o incluído por condições históricas. Se os “incluídos” estão ainda estáveis, isso se deve a sua ligação direta com o poder constituído.
Por enquanto, portanto, assistimos a assaltos, sequestros, arrastões, estouros de caixas eletrônicas e coisas assim, que poderíamos classificar como preliminares de uma etapa em que as forças poderão estar em igualdade de condições e podendo tender para a vitória dos criminosos. Tudo se encaminha irrefreável e irremediavelmente para um confronto cada vez maior. E não há como negar: estamos a cada dia menos aparelhados para qualquer enfrentamento.
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MUITO RIDÍCULO
Muito bonito, muito poético, pois, mas também muito ridículo, aquela gente aparecendo na TV doando ou vendendo achamboadamente suas armas e passando a duvidosa imagem de ser gente “contra a violência”. A Lei do Desarmamento é uma intervenção que “vem na hora certa”, quando as forças do crime começaram a vencer a queda de braço com as estruturas de segurança nas capitais. Agora, isso vai se manifestanto em qualquer cidade do País. E avançando, no muque.
Você duvida? Eu, não: mesmo em remoto arraial no Sul de Minas a Polícia está assumidamente incapaz para peitar a degenerescência decorrente do avanço do tráfico e da destruição dos parâmetros essenciais de uma sociedade em cidadezinha pacata até há pouco tempo vivendo de forma pacífica e desfrutando de uma mínima certeza quanto a segurança e vigência de valores sociais. Tudo isso rui assustadoramente, e não há como entender que “outro valor mais alto se alevanta”. E esse “mais alto” significa dizer que a falência da estrutura do Estado já é experimentada por muitos na carne, por outros já mais que sabida como algo assustador porque cheirando a irreversibilidade e a convulsão social aguda e generalizada.
Desarmar o cidadão honesto é submetê-lo à mesma desvantagem que as polícias e mesmo as FFAA aturam no confronto com o crime. A saturação populacional dos grandes centros leva à experiência de um horrendo caos, e o crime, olha só a piada!!, o crime está, mais fortemente do que nunca na história desse país, se impondo acima das hoje utópicas figuras da lei e da ordem.
Para lembrar esse tão furado 15 de Novembro, muito bem tratado nesta imperdível TI como uma quartelada de araque, temos que afirmar, sem medo de errar, a respeito do que vamos vivendo de forma crescente e irreversível: o Brasil hoje é o país da desordem e do retrocesso. E um país de joelhos.
E a indústria de armas, para discutir um pouquinho o sexo dos anjos, é algo inerente ao ser humano. Desde os primórdios da História o homem tem esse componente em sua vida. E, se estamos longe de um equilíbrio mínimo de valores sociais, e se a violência avança e ameaça você e sua família e até sua propriedade, o que fazer? Discurso pro agressor condenando a indústria dos assassinatos? O argumento dele será, no mínimo, de chumbo… e será terminante, como tem sido.

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