quinta-feira, 1 de novembro de 2012

'O que acontece ali é desumano', diz padre sobre situação de haitianos no Acre


Segundo pároco da cidade de Brasileia, que fica na fronteira do Estado com a Bolívia, condição vivida pelas 280 pessoas que estão por lá é lamentável e precisa de atenção

31 de outubro de 2012 | 19h 48
Itaan Arruda, Especial Para o Estado
RIO BRANCO - O padre Rutemarque Crispim, pároco da cidade de Brasileia, cidade da fronteira do Acre com a Bolívia, faz um relato dramático da situação dos 280 haitianos abrigados na cidade. O fornecimento de energia elétrica da casa alugada pelo Governo do Acre foi cortado. O abastecimento de água também.

Governo do Acre ainda não se manifestou oficialmente sobre a situação dos haitianos - Foster Brown/Divulgação
Foster Brown/Divulgação
Governo do Acre ainda não se manifestou oficialmente sobre a situação dos haitianos
"Há cheiro de fezes e urina por todo canto", relata. "Há crianças, mulheres grávidas e chegando mais haitianos a cada dia. O que está acontecendo ali é desumano". Nesta última terça, um grupo de 44 haitianos conseguiu sair da cidade com promessa de emprego.
A retirada dos CPF's realizada pela Polícia Federal, antes demorada, agora é bem ágil. Eles vêm pelo Peru e chegam a Brasileia depois de passar pela região de tríplice fronteira, localizada na cidade acriana de Assis Brasil.
Do lado peruano, o padre René Salízar, uma referência regional quando o assunto é defesa dos Direitos Humanos, informa que um grupo de 20 haitianos foi obrigado a voltar da vila peruana de Planchón para Puerto Maldonado. De Puerto Maldonado, o grupo viria para Iberia, cidade próxima a Iñapari, vizinha a Assis Brasil.
Por e-mail, o padre diz que recebeu visita de policiais querendo sondar sobre a chegada desse grupo de haitianos. "Eles disseram que queriam levantar informações para mandar ajuda humanitária", disse o padre, deixando escapar certa ironia.
O Governo do Acre não se manifestou oficialmente sobre o assunto ontem. O ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome tratou do assunto até o início da noite de ontem.
A única novidade anunciada após o fim da reunião foi que "o MDS está em contato com o governo estadual visando concluir no menor prazo possível uma alternativa pactuada para atendimento das ações emergenciais necessárias".
Por e-mail, a assessoria de imprensa também contrasta a declaração do secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, Nilson Mourão, de que não tem mais orçamento para tratar dos haitianos, o que justifica atraso no pagamento da energia elétrica, água e aluguel da casa onde está instalado o grupo.
O MDS informa que repassou R$ 900 mil aos estados do Amazonas e Acre no início do ano (R$ 540 mil para o Amazonas e R$ 360 mil para o Acre). Nos cálculos do Governo do Acre já foram gastos cerca de R$ 2,5 milhões com a ajuda humanitária.
"No caso do Acre, esse valor serviu para atender 1.400 famílias. Também foram destinados para o estado do Acre 13 toneladas de alimento dos estoques do MDS na Conab da cidade de Brasiléia", informa a assessoria do ministério.


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