No fim de semana passado os franceses ganharam uma hora de sono, saindo do horário de verão e entrando no de inverno. Por incrível que pareça, isso não deixou ninguém feliz. Ao contrário do que o leitor está pensando, a razão do descontentamento não é a eterna insatisfação pela qual são conhecidos. Este povo, que se revolta contra tudo e contra todos, surpreendentemente gosta muito do horário de verão.
A explicação desta devoção à mudança de horas é compreensível apenas para aqueles que passam grande parte do ano no escuro. Na verdade, adiantar o relógio significa também mais horas de sol e atrasá-lo significa uma hora a menos de luminosidade.
Nos dias mais duros do inverno, lá pelo 21 de dezembro, na França, o sol se põe às 17 h e só volta a dar as caras lá pelas 7h30 da manhã, isso quando ele aparece, na verdade nem podemos falar de sol, falamos de luminosidade.
Já durante o verão e com a horinha a mais, nos pontos mais ocidentais da França, como a Bretanha, é possível admirar o sol se pondo no mar pouco antes das 22h e sua luminosidade fica pairando no ar até as 23h.
O horário de verão foi estabelecido na França em 1976, depois da crise do petróleo, com o objetivo de reduzir o gasto de eletricidade. Atualmente, ainda que se reconheça que a mudança represente pouco interesse econômico, a União Europeia mantém o horário para que os europeus possam aproveitar as noites de verão.
Quando a gente se acostuma com os dias tão longos do verão da Europa, como se adaptar ao por do sol às 18 horas? Os turistas europeus que conheço ficaram decepcionadíssimos ao descobrir que no Brasil os dias são tão curtos.
Eu, que sou uma pessoa estranha, sempre gostei do horário de verão. Era difícil ir trabalhar no escuro, mas que prazer quando saía do trabalho e o sol estava se pondo. Também me sentia mais segura durante o horário de verão, já que no Brasil, não podemos contar com a iluminação pública.
Nunca pensei que fosse dizer isso, mas acho que os brasileiros deveriam parar de gastar tanta energia reclamando do horário de verão e agir como os franceses: tomar uma cerveja com os amigos, aproveitando os últimos raios de sol nas praias e nos bares.
Quando você estiver, na mesa do bar, reclamando do horário de verão, pense nos franceses que se levantam no escuro, sob uma temperatura de 5 graus – a mesma da sua cerveja, diga-se de passagem – e faça um brinde à saúde deles que gostariam tanto de estar no seu lugar, curtindo o horário de verão.
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.
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