Nesta quarta-feira Espanha, Grécia e Itália pararam em um dia de greve geral convocada em toda Europa contra as medidas de austeridade adotadas pelos governos para lutar contra a crise.
Na França, cinco sindicatos se uniram pela primeira vez desde a chegada no poder de François Hollande e mais de 130 manifestações foram organizadas.
Os protestos se somaram à greve de médicos que começou na segunda-feira e às manifestações contra o fechamento da fábrica da Peugeot-Citroën na periferia de Paris, que já duram alguns meses.
Na verdade, na França, pequenas greves e manifestações acontecem praticamente toda semana, por diversos motivos: desemprego, austeridade, mudanças na aposentadoria, em solidariedade a outros países e até mesmo comemorativas.
A mobilização social faz parte da identidade dos franceses, junto com a baguette, o vinho e o camembert.
Como diz a piada: três portugueses, um grupo de fado, três italianos, uma reunião da máfia e três franceses, uma mobilização sindical. Eles conhecem como nenhum outro povo a arte de fazer greve.
Eu presenciei, em novembro de 2007, a pior paralisação dos últimos tempos na França. Um Nicolas Sarkozy recém-chegado ao poder decidiu rever as aposentadorias dos condutores de trem. O país literalmente parou junto com os transporte públicos. Eu nunca vi nada igual nem em meus anos de universidade pública no Brasil.
Mas o que mais impressiona o estrangeiro é sem dúvida a solidariedade dos franceses.
Apesar da imensa desordem causada pelas greves e manifestações em Paris, são poucos os moradores da cidade que criticam os movimentos. A impressão que tenho não é de resignação, eles não são vítimas, todos os franceses fazem parte da greve, à sua maneira.
Um dos slogans mais usados pelos manifestantes é “ne rien lâcher!”, que significa algo como “não abandonar nada” ou “não desistir”.
Eu acho que ele vem de outras datas, de revoluções passadas, claro, toda a história da França foi feita sobre revoluções. Isso foi passado de geração em geração.
Em uma dessas manifestações semanais, vi na televisão uma imagem que nunca vai sair da minha retina. Uma senhora, em meio a bandeiras e manifestantes gritando slogans, dizia ao jornalista que queria mostrar à neta, uma menininha de uns 6 anos, como é um protesto. Ela dizia que a neta tinha que aprender como exigir e conseguir seus direitos.
Por isso, quando perguntam porque na França as pessoas têm tantos direitos, eu costumo responder: porque eles são franceses, não desistem nunca.
Ana Carolina Peliz é jornalista, mora em Paris há cinco anos onde faz um doutorado em Ciências da Informação e da Comunicação na Universidade Sorbonne Paris IV. Ela estará aqui conosco todas as quintas-feiras.
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