sexta-feira, 16 de novembro de 2012

OBRA-PRIMA DO DIA - GRAVURA Albrecht Durer: Melancholia 1 (1514)



Acredita-se que o Quadrado Mágico na gravura de Dürer é o primeiro a ser visto numa obra de arte europeia. (É similar ao de Yang Hui, criado na China 250 anos antes). A soma das fileiras horizontais e verticais, diagonais, dos quatro cantos e dos quadrados centrais é 34. Os dois números no centro da fileira de baixo dão a data da criação da gravura: 1514. Nas pontas o 1 e o 4 correspondem (em alemão e muitas outras línguas europeias) às iniciais do artista: A, a primeira letra e D, a quarta.


Melancolia I, única das três gravuras que Dürer intitulou – aliás, é a única da suas gravuras que recebeu um título gravado na imagem - tem sido interpretada como uma reflexão sobre o espírito de um indivíduo criativo.
Durante o Renascimento ainda acreditava-se que os traços da personalidade eram governados por um equilíbrio – ou um desequilíbrio – dos chamados humores no corpo humano: a atrabílis, a bílis esverdeada, o sangue e a fleuma. As pessoas com excesso de atrabílis eram propensas à melancolia, um temperamento que associavam à criatividade.


Na gravura, a mulher que personifica a Melancolia, senta-se pensativa, cercada por objetos que se referem à criatividade. A maioria em especial à geometria que na época era considerada a linguagem essencial na busca pela criação no desenho, na pintura, na escultura e na arquitetura: a esfera perfeita, o poliedro, as ferramentas do marceneiro e o quadrado mágico (imagem acima), todas relacionadas à geometria e seu poder de medir o espaço e o tempo.
Talvez a mais reveladora seja o compasso, que a Melancolia segura displicente na mão direita. Na Idade Média era comum esse instrumento aparecer nas mãos de uma mulher representando a geometria, mas também tinha como objetivo lembrar Deus, o grande geômetra, que media os céus e a terra com seu compasso divino.
Diante do Supremo Ato Criativo, a figura da Melancolia e, por extensão, o próprio Dürer, só podem se sentir inadequados e abatidos. Dürer escreveu num esboço para essa gravura: ”as chaves significam o poder, a bolsa significa a riqueza”. Portanto, a bolsa e as chaves que pendem do cinto da Melancolia parecem indicar que a riqueza e o poder são inúteis para o artista criativo cujo temperamento melancólico o impede de criar.
Comparada com as duas outras meisterstiches, a do Cavaleiro e a de São Jerônimo, essa é a mais misteriosa e uma das mais antigas e complexas descrições sobre o temperamento artístico feitas na história do Ocidente.
Outros símbolos: o raio e o arco-íris; o morcego que carrega a placa com o título da gravura; o anjo – para alguns o 'gênio' – desconsolado; a balança vazia. Como nas outras duas meisterstiches, não faltam o cachorro, a ampulheta e o crânio (cuja imagem está apenas esboçada no poliedro).
Dizem que não há gravura mais estudada que essa, que já encheu muitas e muitas páginas e que há 500 anos desconcerta o espectador. Há cópias da tiragem original noMetropolitan Museum of New York, no British Museum e no Städel, Museu de Arte de Frankfurt, Alemanha.
Dürer publicou dois livros em vida: um sobre geometria e perspectiva (1525) e o outro sobre fortificações (1527). Sua obra sobre as proporções do corpo humano foi publicada postumamente, em 1528, pouco depois de sua morte.
Albrecht Dürer faleceu aos 57 anos incompletos. E eu aqui fiz um resumo do resumo do resumo de sua vida e obra.
Recomendo aos interessados o livro "Vida y Arte de Alberto Durero", Ed. Allianza, Madrid, 1995. Para quem preferir, há uma versão em inglês.

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