segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Com queda dos juros no país, empresas reajustam seguros em até 10%, o dobro da inflação


Ganho com aplicações em títulos públicos caiu e conta vai sobrar para o consumidor



Mário Sérgio presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros de São Paulo
Foto: Divulgação
Mário Sérgio presidente do Sindicato dos Corretores de Seguros de São PauloDIVULGAÇÃO
SÃO PAULO — A redução dos juros no país está provocando uma mudança estrutural no setor de seguros e afetando o bolso do consumidor brasileiro. A queda de 5,25 pontos percentuais na taxa básica Selic, em pouco mais de um ano, derrubou o ganho financeiro das companhias, decorrente das aplicações em títulos públicos, que responde hoje ainda por mais da metade dos seus lucros. Para compensar a diminuição na receita, as empresas de seguros elevaram preços e buscaram mais eficiência.
Em todo o Brasil, o preço dos seguros subiram de 2% a 5% neste ano, de acordo com o Sindicato dos Corretores de Seguros de São Paulo (Sincor-SP), que monitora o mercado nacional. No ramo de automóveis, que responde por um terço dos seguros vendidos no país (excluindo planos previdenciários), a alta média ficou entre 7% e 10%, de acordo com a entidade. Ou seja, até o dobro da inflação acumulada este ano, de 4,38%, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE.
— No segmento de veículos tivemos guerra de preços muito grande no ano passado, que reduziu o preço do seguro para automóveis e trouxe prejuízo para corretoras. Este ano, devido à queda da Selic e à melhora do mercado, tivemos este reajuste — diz Mário Sérgio, presidente do Sincor-SP.
Os aumentos variam de cidade para cidade, e de acordo com o perfil dos clientes. Marcos Pummer, assessor técnico do Sincor-SP, diz que a alta atingiu principalmente as maiores praças, como São Paulo, que responde por 48% do mercado brasileiro de seguros, e o Rio de Janeiro, o segundo maior, com participação de 13%.
Os maiores mercados são também os locais com maior sinistralidade, como roubos e batidas. Segundo Pummer, o índice de furtos é ainda muito alto no país e aumentou este ano.
— O crime organizado está cada vez mais organizado: quando a pressão sobre determinado crime aperta, ele passa para o furto de veículos e cargas.
Pesaram também nos reajustes deste ano o preço das autopeças, que no acumulado do ano até outubro registram uma alta de 3,39% de acordo com o IPCA, do IBGE, e o aumento no custo do conserto de veículos, que no mesmo período subiu 4,2%.
Preço pode subir mais 10% em 2013
A correção de valores, de acordo com os especialistas, deve prosseguir no próximo ano. O analista Francisco Galiza, da consultoria Rating de Seguros, espera alta de pelo menos 10% em 2013, para fazer frente à receita menor decorrente do pagamento de juros às companhias seguradoras.
— Esse é o mínimo para cobrir a alta da inflação e ainda a diminuição das receitas por causa dos juros. Esse ajuste em função dos juros está ocorrendo em todo o mundo — diz Galiza.
Segundo ele, hoje o resultado financeiro responde por algo entre 60% e 65% do lucro das empresas de seguros. Esse percentual inclui tanto a remuneração das aplicações financeiras, principalmente em títulos públicos, quanto os juros cobrados pelas empresas no pagamento parcelado dos seguros.
— A tendência é que o resultado financeiro perca importância relativa nos resultados das companhias nos próximos anos — afirma Galiza.
Na Chubb Seguros, por exemplo, as receitas financeiras responderam por aproximadamente 80% do resultado da empresa no ano passado, enquanto a operação de venda de seguros propriamente dita deu conta dos 20% restantes. Neste ano, com a queda da Taxa Selic, a contribuição das receitas financeiras vai cair para 60%, de acordo com o presidente da companhia, Acácio Queiroz. Em 2013, segundo ele, esse percentual deve cair para 50%.
— No ano passado fizemos um aumento de 10% nos nossos produtos, o que permitiu que passássemos este ano sem ter de corrigir os preços. Não tenho dúvidas de que no ano que vem vamos ter um novo ajuste de preços. É algo que o mercado todo vai ter de fazer — afirma Queiroz.
Para dar uma ideia do impacto da queda de juros, Queiroz ressalta que em setembro do ano passado, a Chubb tinha R$ 500 milhões em aplicações financeiras, que renderam R$ 5,3 milhões em juros. No mesmo mês deste ano, embora o volume aplicado tenha sido 20% maior (R$ 600 milhões), o retorno financeiro ficou 30% mais baixo, em R$ 3,7 milhões.
Na Porto Seguro, líder no ramo de seguro para automóveis, os reajustes ficaram em torno de 15% este ano, de acordo com Marcelo Picanço, diretor de Relações com Investidores da seguradora. Ele alega que parte desse ajuste se justifica também pelos serviços que a companhia agrega na venda de seguros, como a manutenção de automóveis e os consertos domésticos.
O diretor diz que a empresa também conseguiu melhorar o indicador de eficiência, que mede o peso das despesas administrativas sobre a receita obtida pela companhia. Ele apresentou uma redução de 0,8 ponto percentual em relação ao ano passado.
Seguradoras podem ir à Bolsa
O executivo afirma ainda que, a longo prazo, as empresas devem buscar também uma diversificação dos investimentos. Hoje, segundo ele, a maioria das seguradoras concentra as aplicações financeiras em títulos públicos, que têm como referência a Taxa Selic. Na Porto Seguro, 99% das aplicações estão nesses papéis. Apenas 1% está em renda variável, embora a Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão que regulamenta o setor, permita que até 49% dos recursos sejam aplicados nesse tipo de investimento.
— Vai haver um trabalho de ganho de eficiência, vai haver um trabalho de ganho de margem e recomposição de preços, e possivelmente alguma diversificação que eu chamaria de moderada. Não acho que as companhias brasileiras vão sair de 1% em ações para 20% de um ano para o outro — afirma Picanço.
Para ele, no entanto, o mercado ultimamente não tem dado opções muito atrativas, fora dos títulos públicos.

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