Derrotado no primeiro turno por Paulo Maluf, por 32,2% contra 22,9%, e com apenas 70 mil votos de frente sobre a terceira colocada Marta Suplicy, em 1998, Mario Covas virou o jogo e se reelegeu a partir de um mote único: moral.
Conseguiu em pouco mais de 20 dias mostrar que os fins não justificam os meios, que o “rouba, mas faz” não é bordão para eleitor algum se orgulhar. Dividiu a eleição em os com e os sem-moral.
A vitória de Covas desmente com fatos – algo que petistas não gostam muito – a declaração do ministro Gilberto Carvalho de que nunca se deu bem quem aposta no uso de temas morais.
Há 14 anos os tempos eram outros. Ainda que a contragosto de José Dirceu – que convocara a militância para derrotar Covas “nas urnas e nas ruas” – o governador recebeu o apoio de Marta e do PT, em nome de manter São Paulo longe da roubalheira.
Hoje, o PT de Lula posa sorridente nos jardins da mansão de Maluf para receber o apoio de quem Marta taxou como nefasto. Alia-se ao que há de mais retrógado na política - sarneys, collors e renans -, e ainda tem o desplante de colocar o conservadorismo na conta dos adversários.
Chama a Suprema Corte do país de tribunal de exceção. Oito dos 10 ministros do STF foram indicados por Lula e Dilma. E, certamente, o PT considera ingratidão que seis deles tenham acatado a denúncia de Roberto Gurgel, procurador-geral também nomeado por Lula e reconduzido por Dilma.
Pior. O PT reedita, de um jeito moderninho e com ares de nobreza, o jargão eternizado para Adhemar de Barros e plagiado para Maluf.
“A população tem sabedoria para entender que o que vale é a prática de um projeto que está mudando o Brasil”, disse Carvalho ao explicar por que “não é inteligente” usar o mensalão na campanha eleitoral.
Expõe, sem constrangimento, o raciocínio que norteou a voracidade com que o partido abocanhou o Estado. Os crimes não têm a menor importância. Foram cometidos em nome de um projeto, em nome do que o PT considera ser melhor para o povo.
Imoral? E daí?
Safo, o ministro não quer é ver campanhas a mostrar os responsáveis por corrupção, peculato, uso de dinheiro público para comprar parlamentares, desrespeitando o eleitor.
Assim como já vem fazendo ao demonizar as transmissões ao vivo do julgamento, ao desacatar o STF e culpar a imprensa pelas condenações de seus ícones, o PT fará de tudo para o eleitor ignorar a gravidade dos atos de seu governo. Quer manter o tema distante do povo.
Apostam na ignorância. Um trunfo que deixaria qualquer um envergonhado. Mas nunca o PT, que já mostrou que faz qualquer coisa para vencer. Como diz Carvalho, vale tudo.
Mary Zaidan é jornalista, trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa, @maryzaidan
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