Miriam Leitão, O Globo
O Brasil está no segundo ano de baixo crescimento, o PIB está murchando, mas isso não influenciou o resultado das eleições municipais porque o voto foi decidido por questões locais.
Na Venezuela, os problemas econômicos se acumulam, e isso deu força à oposição, apesar de Hugo Chávez ter aumentado em 25% o gasto público em programas sociais para manter suas bases.
A economia sempre terá influência numa eleição, mas em algumas a participação não é determinante. No milagre econômico, o governo foi derrotado nas eleições limitadas de 1974. Em 1986, o Plano Cruzado favoreceu o governo, e o PMDB foi vitorioso país afora. Até hoje é o partido com mais capilaridade.
Os sistemas políticos atuais do Brasil e da Venezuela são bem diferentes, felizmente para nós. Aqui, instituições sólidas e democracia cada vez mas forte. Lá, esta foi a eleição em que houve o maior equilíbrio desde 1998, mesmo assim, as milícias institucionalizadas por Hugo Chávez intimidaram eleitores, a imprensa foi ameaçada, o governo usou o Estado e a maior empresa do país para se manter no poder.
O Brasil está este ano com a segunda pior taxa de crescimento dos países da região, depois do Paraguai, que está em recessão. Mesmo assim não se pensou em voto de protesto. Isso porque há um crescimento fraco, mas com desemprego baixo e crédito farto.
A inflação está ascendente, na área que mais pega, a de alimentos, mas não está sendo vista como descontrolada. Tudo isso neutralizou o efeito que o crescimento declinante poderia fazer.
O eleitor deu vários recados aos partidos em geral. Quer um sistema partidário pulverizado, apesar de isso incomodar quem preferiria um país com menos partidos.
Sete legendas tiveram vitórias no primeiro turno, das nove capitais onde a eleição já acabou. Isso informa que não há um ganhador das eleições, mas vários.
O presidente Lula mostrou seu poder ao levar ao segundo turno da maior cidade um estreante em eleições, mas não comprovou todo o poder que ele imaginava ter.
No Recife, onde o PT governa há 12 anos e Lula sempre teve boa votação, o partido sofreu uma acachapante derrotada. O PSB de Eduardo Campos é mais dono da vitória do Recife do que de Belo Horizonte.
As sutilezas da política brasileira mostram que realmente este não é um país para amadores. Márcio Lacerda é do PSB, mas sua vitória é creditada a Aécio e foi a maior derrota da presidente Dilma. Ela esteve na cidade, e num estilo nada mineiro defendeu seu candidato, mas não o levou ao segundo turno.
É a política que governa a política. A economia influencia às vezes. A economia tem seus poderes políticos mas não é forte nas escolhas locais.
O Rio de Janeiro reelegeu um prefeito que é bem avaliado, mas também porque está de olho na permanência administrativa necessária para o sucesso das Olimpíadas. Será um erro grosseiro se Eduardo Paes abandonar o barco dois anos antes das competições por outras ambições. O eleitor mandou um eloquente recado ao prefeito que quer o sucesso dos projetos que levarão a 2016.
Mesmo as eleições municipais sendo governadas por questões locais, o segundo turno vai exibir clivagens nacionais. A mais óbvia delas ocorrerá em São Paulo. A eleição paulistana não será uma prévia da presidencial, mas é um tabuleiro no qual os jogadores vão querer mover suas pedras.
O ex-presidente Lula está não apenas querendo mostrar seu poder sobre o eleitorado, mas quer renovar as lideranças de um partido que teve vários dos seus quadros dirigentes abatidos por escândalos políticos. O PSDB em São Paulo terá que ser capaz de superar divisões nas quais tem se enfraquecido.
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